Sim, n

Bom ou ruim, como tudo dos Estados Unidos aqui no Brasil se copia e se transforma, em Curitiba o desafio de Obama (Yes, we can!) deve ser vertido com uma interrogação: Nós podemos? A cidade precisa ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014? Sim ou não?

Além dos balangandãs, das coisas boas que precisaríamos trazer dos Estados Unidos são os plebiscitos acoplados às eleições para presidente, senadores e deputados. Na consulta às plebes, os americanos julgam questões polêmicas como o casamento gay, o aborto, impostos, etc. Com a eleição de Obama, só faltou referendar se a cantora Amy Winehouse tem direito a eutanásia.

Antes que assaltem o cofre da viúva, precisamos perguntar: para ser uma das sedes da Copa de 2014, nós podemos construir o metrô para transportar os sacatrapas da Fifa?

Para perguntar se Curitiba deve fazer o metrô, um plebiscito não é preciso. A esse referendo o povo responde no horário de pico, entulhado numa estação-tubo.

Para julgar se Curitiba tem condições de fazer um metrô em apenas seis anos, para 2014, o primeiro cidadão curitibano a votar seria o jornalista Luiz Geraldo Mazza, que no meu humilde parecer seria o nome certo para a Secretaria de Turismo de Curitiba. Como vota em aberto, o irmão do Mazzinha escreveu: “No fundo de tudo isso a pirotecnia da sediação da Copa, visivelmente algo para beneficiar grandes negócios, como se deu com o Pan no Rio, onde o vice-governador Pessuti tenta sair candidato e mostrar-se determinado, chega ao cúmulo de indicar que o festival de lobby poderia dar o metrô a Curitiba. A imaginação é livre”.

Precisa dizer mais?

Precisa! Um quilômetro por ano, esse é o cálculo para se construir um metrô. Noves fora o projeto, as concorrências públicas, os embargos e demais encrencas na Justiça, além das demoradas negociações quanto aos 10%, digamos que na melhor das hipóteses o primeiro buraco do metrô será aberto no Carnaval (e que Carnaval!) de 2011, quando Roberto Requião estiver a boa distância do Palácio Iguaçu. Então, lá em 2014 teríamos quatro quilômetros do metropolitano. Da Arena da Baixada à Boca Maldita, aproximadamente. Do Alto da Glória ao Batel, por aí. Depois do inferno das obras, enfim o metrô seria inaugurado, com a torcida da Vila Nossa Senhora da Luz plantada nas estações para aplaudir Galvão Bueno indo e vindo da suíte presidencial do Hotel Bourbon.

É preciso repetir o que já disse Jaime Lerner: “O metrô não acontece de uma hora pra outra. Há 50 anos que se discute em Nova York a Second Avenue Line, o metrô da Segunda Avenida. Cinqüenta anos! Agora, estão começando. Vai levar mais uns 20 anos pra fazer. São 70 anos pra fazer uma linha que vai custar US$ 4 bilhões. E essa linha não vai transportar mais passageiros do que o ônibus biarticulado que passa em frente ao meu escritório, em Curitiba”.

A cidade precisa ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014? Sim ou não?

Curitiba não devia perder tempo e dinheiro para, a reboque da Fifa, trazer obras necessárias à cidade. Se Luiz Geraldo Mazza fosse secretário de Turismo, no meu humilde parecer aconselharia o jornalista a imaginar um projeto alternativo: trazer uma ou duas seleções para treinar em Curitiba. A pré-temporada da Copa, diria o cronista esportivo. Itália, Espanha, Polônia, Portugal, Alemanha, com quem temos afinidades étnicas. Até a Argentina, com Maradona e tudo, menos a Inglaterra dos hooligans.

Por ser uma cidade com o conceito de organizada, ordeira, calma, discreta, não afeita ao barulho e ao Carnaval, nem mesmo ao rock da Pedreira Paulo Leminski, Curitiba tem a configuração perfeita para um campo de concentração.

Curitiba não precisa ser uma das sedes da Copa do Mundo. Cidade civilizada, deveríamos promover a reedição do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País).

No nosso caso seria o Festival de Besteiras que Assola o Paraná.