Na tarde de sexta-feira passada recebi um telefonema do Palácio das Araucárias. “Será o Benedito?”, pensei. Era o próprio José Benedito Pires Trindade, secretário de Imprensa do governador. Como nos conhecemos há muitos anos e pelo tom irado da voz, sem dúvida, era o Benedito: “Nunca mais cite o meu nome em vão!”.

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Benedito Pires foi citado aqui neste espaço a propósito da jornalista Dinah Ribas Pinheiro, que teria sido demitida da assessoria de imprensa do BRDE para ceder lugar à sobrinha de Benedito, a também jornalista Fabiana Pires Trindade, depois de divulgados os nomes dos nepotes ameaçados pela resolução do STF.

Com o jornalista Benedito Pires trabalhei durantes alguns anos no extinto jornal católico Voz do Paraná, sendo ele, naqueles anos da ditadura, um chefe
de redação “digno de nosso respeito”. Assim me referi com reverência ao ex-companheiro de jornal, para concluir com uma pergunta que não deveria ofender a quem exerce um cargo público: “Será o Benedito que conhecemos?”.

Benedito me telefonou ofendido, dizendo que só não iria me desferir um amontoado de palavrões porque, por educação, não costuma ser chulo. De fato, o jornalista que conhecemos é de natureza política um indignado, não um chulo de boca rota. Ou não seria o Benedito. “Um radical azedo”, diz dele a direita com o nariz torcido. “Um anjo vingador”, replica a esquerda enfurecida. Por trás do retrato com barba, encontra-se um profissional de excelente formação, um intelectual amante de óperas. Educado, porém mal-humorado.

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Mal-humorado, indignado, irado, e com razão, segundo a versão em viva voz de Benedito: Fabiana Pires Trindade, sua sobrinha, é jornalista contratada pela Agência de Notícias do governo do Paraná, removida para assessora de imprensa
do gabinete do ex-secretário de Comunicação Aírton Pisseti. Quando este assumiu o cargo de diretor do BRDE, foi convidada para acompanhar Pisseti no novo cargo, com as mesmas atribuições. A princípio para trabalhar ao lado de Dinah Ribas Pinheiro, levada ao BRDE pelo então diretor Carlos Marés e agora procurador-geral
do Estado. Segundo fonte do governo (que não é o Benedito), Pisseti não estaria satisfeito com o trabalho de Dinah, mais afeita a divulgar assuntos culturais
do que os de ordem econômica. Por essa razão Dinah teria sido afastada, dentro
de um procedimento corriqueiro na troca de diretores.

Veemente como sempre, era o Benedito que conhecemos: “Quando soube que Aírton Pisseti teria convidado minha sobrinha para o BRDE, eu a proibi terminantemente de assumir o cargo! Fabiana continua onde sempre esteve. Nunca mais cite o meu nome em vão! Daqui a dois anos vou sair por aí pedindo emprego. Ao contrário de muitos coleguinhas que conhecemos, vou sair do governo do jeito que entrei!”.

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As palavras podem não ter sido exatamente essas, foram bem mais fortes. Em suma, foi o que guardei. Benedito Pires é “ateu  de família católica”, como já
se autodenominou. Seu irmão, cônego Olavo Trindade, foi dirigente da TFP (Tradição, Família e Propriedade), organização com a qual rompeu anos mais tarde. Duas de suas irmãs seguiram a vida religiosa. Na década de 70, Benedito chegou a Curitiba clandestinamente, perseguido pela ditadura militar.

Seu primeiro emprego na imprensa local foi na Gazeta do Povo, encaminhado a Francisco Cunha Pereira pelo jornalista Celso Nascimento. Apresentado por Celso ao editor Aroldo Murá, Benedito passou a atuar no semanário católico Voz do Paraná. Repórter brilhante da revista Referência em Planejamento, o jornalista
de oposição era bem recebido, inclusive, por Belmiro Castor Valverde, secretário do governador “arenista” Ney Braga. Jaqueta de camurça marrom, naqueles tempos vivia carregando grandes envelopes e livros. Esgotado, muitas vezes, na redação da Voz do Paraná, na Travessa Itararé, sua cabeça pendia sobre a mesa
de trabalho. Caía literalmente no sono, depois de madrugadas em reuniões políticas.

Esse é o Benedito que conhecemos!