Semo polaco non semo fraco

No Paraná, a reforma ortográfica é perfeitamente dispensável. Em Guarapuava, Prudentópolis, União da Vitória, Irati, Palmeira e Araucária, nos Campos Gerais, principalmente. Nessas regiões, o idioma é o “portugowski”. Gramaticalmente, escreve-se como se fala. Ou vice-versa.

São muitos os prosadores nesta língua que mistura “rolmops com cuque”. O mais reverenciado deles é o engenheiro Nicolau Klüppel, o pai do Parque Barigui. Da nova geração, temos o pintor Sérgio Kirdziej (a pronúncia pode ser qualquer uma) e o empresário de Araucária Gláucio Karas. Com o pseudônimo de Isidório Duppa, Karas é o mais produtivo de todos: músico, compositor e escritor, agora também é teatrólogo. “Semo polaco non semo fraco” é a peça de teatro que Izidório Duppa e grande elenco vão apresentar neste Festival de Teatro de Curitiba, nos dias 26, 27, 28 e 29 de março, no Centro Cultural Uninter (Alameda
Dr. Muricy, 1088).

Para quem ainda não conhece a verve de Isidório Duppa (que também apresenta um jantar com show de humor na cantina da Lídia, em Araucária) eis um texto em legítimo “portugowski”, crônica que Gláucio Karas escreve semanalmente no jornal Folha de Irati. É uma delícia!

Causos do Isidório

“Pregado na parede do armazéi tinha um cartais anunciando um grandiozo baile de carnavá na cidade com uma déssas banda famósa, os “Pára-choque do Fracaço”. Dizia no cartais qui quéi formasse uns blóco de carnavá só pagava metade da entrada.

Déu o maió ribuliço na region, éra só gente comentando qui iam no tal baile e tavam tudo preparando as fantasia pra formá os blóco pra pulá no salon. Inté cunvidaro iéu pra i junto no blóco dos marinhero, iéu non achô boa idéia inté proque aqui na roça num téi mar e néi naviu. Veio tambéi o pessoal dos prisidiário cumas ropa listradinha cunvidando iéu, mais cumo quiá iéu vai de preso siá inté hoje nunca posô nenhuma noite na cadeia, nun era dessa véis qui ia mi visti de zebra.

Pro fim o pessoal dos fantasiado de jogador de futeból co corintcha, até achei qui pudia aceitá, inton oferecero a camisa dum tál de Ronardo Gordo, quiriam mi pintá de iscurinho e ponhá uns dente postiço qui néi coeio e inton pulei fora, vai que apareçam uns camarada vistido de muié e queram me atacá.

Sendo ansim, já tava quase qui disistindo da idéia de i no tal do baile quando veio idéia de mi fantasiá de espantaio, era só ponhá umas paia nas manga, nas calça e abri os braço. Funcionô direito, me preguntaro na entrada onde tava o resto do blóco e iéu falô qui espantaio só téi um na roça e os passarinho iam chegá mais tarde.

Me dexaro entrá e era um baile diferente, tudo mundo fazendo treizinho, pulando abraçadinho dando vórta no salon, cantando aquela marchinha cunhessida do tipo “oia cabeléra do Polaco, será qui iele é fraco, será qui iele é fraco” ou inton, “mai iéu quero, mamai iéu quero, mamai iéu quero pastá”; tinha os otro qui cantava “dotô iéu non mi ingano, méu coraçon é ucraniano”.

Iéu ali parado cos braço aberto sin si mexê até qui o cantor da banda convidô iéu pra cantá uma musca já qui iéuásô meio metido a cantor. Disse qui non só pra fazê cena mais o povo intero pidiu qui iéu cantasse umazinha só e lá foi iéu pra cima do palco. Mi déro o micronfone e inton tasquei umas polaquera do tipo “pidolido sonsoronzo sonsoronzo pidolido” e mintusiamei e fiquei ali cantando qui néi passarinho
e vistido de espantaio.

Quando abri os zóio vi qui o pessoal pararo de dançá e mi oiavam cumas cara isquisita, os vistido de índio começaro a me atirá fléxa, as de baiana tiraro as banana da cabeça e jogaro ni iéu, os ca cara do Lula pararo de tomá cachaça e diziam bobage inté qui mi ispantaro do palco.

Desgracera mésmo, priméra féis qui ispantam o espantaio. Agora iéu vai ter qui agüentá 40 dia de quaresma pra voltá a cantá nos pálco, inda béi que carnavá é só uma véis no ano.”