Bem faceiro e com a camisa do Operário de Ponta Grossa, o Animador de Velórios dos Campos Gerais veio se exibir na Boca Maldita. Engraxou o sapato na Boca do Brilho, tirou uma casquinha da coxarada e foi tomar um cafezinho com o cronista Carneiro Neto.
– Muito trabalho? – perguntou Carneiro Neto.
– Agora mais do que nunca, pois o Fantasma deu um baita susto no Campeonato Paranaense.
– Com um povo de coração valente, pelo jeito vai morrer muita gente enfarte nos Campos Gerais!
– Mas nada parecido com o que aconteceu em Tibagi, lá onde os enfartes cinco estrelas acontecem durante as orgias – disse o Jaguara.
– Orgia em Tibagi, naquela terra santa? – espantou-se o jornalista Luiz Geraldo Mazza.
– Em matéria de histórias, Tibagi já é uma orgia! – acrescentou o médico Paulo Mercer. Desde o tempo do Chico Buzina. Subdelegado de Tibagi, ele entrava a cavalo em salas de baile, fincava as esporas da paleta à virilha do matungo e o fazia corcovear. Chico Buzina sabia fazer justiça.
– E que enfarte cinco estrelas foi esse? – perguntou o Carneiro Neto ao Jaguara.
– Sucedeu que um grupo de amigos fechou uma fazenda nas cercanias de Tibagi, para realizar uma grande festa, digamos. Todos de meia-idade, o mais velho era o falecido, com quase oitenta anos. Muita cerveja, muito vinho, uísque do bom e do melhor, mataram um boi e não sei quantos carneiros para dois dias de folia. Claro, não faltou um sanfoneiro e muito menos, para animar o folguedo, um plantel de raparigas de Curitiba, escolhidas a dedo. Lá pelas tantas, o velho fazendeiro da fuzarca catou uma das moças e se entrevou com ela num dos quartos. De repente, a rapariga voltou correndo pelo corredor e, no maior desespero, adentrou o salão de festas aos berros: “Socorro que o velho teve um troço!”. Foi um enfarte cinco estrelas!
– Morreu o velho, acabou a festa!
– De certa forma. O sanfoneiro escafedeu-se, uma parte da rapaziada continuou na gandaia. Veio o rabecão, levaram o corpo do enfartado. Passados os procedimentos de praxe, o dia estava quase clareando quando bateu o celular do falecido. Quem atendeu foi um dos mais ébrios, tropeçando nas palavras:
– Alô! Quer falar com ele? O véio não tá! Foi fazer uma autópsia e já volta!
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Antes de se despedir dos amigos da Boca Maldita para almoçar no Maneko’s – não sem antes passar no Stuart para um trago -, o Jaguara foi intimado a dar o seu palpite para o confronto deste domingo com Coritiba.
– Dois a um para o Fantasma de Ponta Grossa!
– E se o Operário for campeão paranaense, muito trabalho para o Animador de Velórios?
– Bastante, muito enfarte cinco estrelas nos Campos Gerais!