Segredo da Pérola

Curitiba, o paraíso dos gastrônomos de caixa-baixa, tem lá seus tesouros, inacessíveis até mesmo para os bacanas da alta gastronomia. Um dos melhores defeitos do curitibano é saber comer bem e barato. Das nossas mil maravilhas da baixa gastronomia, uma delas restou perdida no tempo e no espaço: a lendária e misteriosa receita do principal sanduíche da Confeitaria Pérola, também conhecida como Bar Pérola.

Com saliva na boca, muitos lembram vagamente da receita. Devido ao desencontro de detalhes, o pouco que se sabe veio da memória de três ilustres frequentadores da Pérola, em depoimentos para a historiadora Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim. Segundo o escritor Jamil Snege, “os sanduíches frios da Pérola, com 178 picles picadinhos e molhos picantes era um deslumbramento. Desses que hoje se pratica muitos, elas já faziam isso na década de 50”.

Advogado e escritor, Nireu Teixeira lembrava que “havia um cidadão que levou anos fazendo esse sanduíche. Gordinho, rosto redondo e usava uma faca longa que foi se desgastando através do tempo. Com aquela faca ele cortava fatias finíssimas de um pernil muito bem temperado e colocava um molho verde. Então, era uma coisa extraordinária! Depois que fechou o Bar Pérola ele foi para o Cometa fazer a mesma coisa. Era um atrativo do bar essa comida”.

O jornalista Paulo Roberto Marins lembra do sanduíche da Confeitaria Pérola em sua fase do Bar Cometa: “Presunto, queijo, picles, pernil, verde, pão de forma. Ao forno. Está pronto o sanduíche. O lépido garçom Jorge Marlle literalmente dançava entre as mesas, entre um pedido e outro”.

Não se sabe exatamente onde – se em frente à Livraria Ghignone, ao Bar Cometa, ou à Confeitaria das Famílias -, mas há quem diga que a receita da Pérola, com seu molho verde inenarrável, foi enterrada em algum ponto da Rua das Flores, na quadra entre a Barão do Rio Branco e a Monsenhor Celso.

Se porventura alguém retirar do baú o mapa com o segredo daquela pérola perdida, o paraíso da baixa gastronomia agradece.