Desde quando a baía se chamava “Pernaguá” o poder público é uma das maiores pestes a flagelar o litoral do Paraná, conforme escreveu em 1850 o historiador Antônio Vieira dos Santos na sua “Memória Histórica da Çidade de Paranaguá e seu Município”. Descaso e corrupção, além das diversas “enfermidades endemicas de febres desynterias e outras diversas emanádas pela corruptibilidade atmosfherica, da grande immensidade de exhalações putridas d’agoas estagnadas”.

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Mais que “Memória Histórica”, a obra de Antônio Vieira dos Santos contém as primeiras queixas de veranistas, prova de que o litoral é achacado pelos piratas dos cofres públicos desde 1648, quando Paranaguá foi “antigamente enobrecida com o nome de Capitania, que lhe deo o Marquez de Cascaez”.

“Quão formozíssimo” não ficaria a orla com homens de boa vontade no comando, reclamava Vieira dos Santos da falta de árvores nos passeios de Paranaguá. Uma alameda não só para o “formozeamento da Çidade” como para o descanso dos “Guardas Naçionaes” que, cansados do trabalho e expostos aos raios de sol ardente não têm onde repousar alguns minutos à sombra de uma alameda, mesmo servindo para um delicioso passeio para as senhoras e senhoritas e suas famílias.

Ontem como hoje, o déspota de ocasião cumpria a rapinagem de sua parte, enquanto a insalubridade, a falta de saneamento e o calor não ajudavam para a “propagação da especie humana”, fazendo das famílias pobres as mais prejudicadas, “sendo a unica riqueza dessas, seus filhos”.  “No sólo da Çidade seu mais subido calor na força do Estio não tem exçedido a 92 graos, no Barometro de Fahrenheit”, registrou o historiador. A maior temperatura registrada então foi no ano de 1884, às duas da tarde do dia 27 de fevereiro. De 1842 a 1845, as maiores temperaturas foram de 80 até 87 graus: “Na estação invernôza nunca baixou o azôngue no Barométro a menos de 50 gráos de Fahrenheit”. 

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Naqueles antanhos não sabiam o que era “sensação térmica”. Sabiam apenas “da grande immensidade de exhalações putridas d’agoas estagnádas”. Para findar as lamentações, Vieira dos Santos queixava-se das condições de um Estado como este, apesar de sua privilegiada geografia, “onde não se sente os ardéntes calores da Sicilia, Africa e Persia, nem os geládos frios da Lapônia, Russia e Noruega, mostra estar a sua boa pozição collocada, em hum ponto feliz”.