Desde março de 2004 estamos acompanhando a vida atribulada dos jacarés do Parque Barigui, o primeiro deles nascido no quintal da nossa amiga Ana Thereza (Tisa) Kastrup, na beira do lago, entre as ruas David Abraão e Pedro Pizatto. Nos fundos da casa de Tisa morava um agente da Polícia Rodoviária Federal, de nome Ronaldo. Numa blitz ele apreendeu um filhote de jacaré com uns 40 cm e o trouxe para casa. Depois de servir de brinquedo para a piazada, os vizinhos acharam melhor soltar o filhote no lago.
O bichinho cresceu no Barigui feliz da vida, sem nunca chatear ninguém, a não ser os gansos, peixes e frangos d’água, até os jornais descobrirem que a superfície plácida e imunda do lago encobria uma guerra entre dois elementos da família Alligatoridae.
Tudo começou quando o pioneiro Jacaré do Papo Amarelo percebeu a invasão de seu território pelo terrível Jacaré do Pantanal, um alienígena que, segundo os técnicos da prefeitura, teria chegado de carona com um grupo de Sem Terras do Norte do Paraná.
Depois de um tremendo bate-boca entre os dois, com o pantaneiro querendo implantar a reforma agrária no lago do Barigui, técnicos da prefeitura tentaram transferir o domicílio eleitoral dos jacarés para o Zoológico Municipal, fazendo com que a população de Curitiba se levantasse em defesa dos répteis em litígio. Somada à questão agrária, a situação se agravou com o lamentável episódio do cachorrinho que foi mastigado em público pelo Jacaré do Pantanal, quando a cidade se dividiu entre os partidários do bicho papão e do au-au que virou suco. À moda de Pilatos, o então prefeito Cássio Taniguchi lavou as mãos nas águas barrentas do lago, jogou algumas pizzas para matar a fome dos aligátores e assim restou aquela estranha relação de amor e ódio com os frequentadores do Parque Barigui.
Quando tudo parecia ter terminado em pizza, assim que as urnas anunciaram o nome do novo prefeito, o Jacaré do Papo-Amarelo nos telefonou:
– Quanto tempo, Papo-Amarelo. Enfim, reapareceram. Em que podemos ajudar?
– Queremos de indicar o novo secretário do Meio Ambiente. Ou o Gustavo Fruet nos atende, ou vamos montar uma lona preta aqui no Parque Barigui.
– Difícil. Seria mais fácil a Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo.
– Também serve. Com tantas piranhas na área, jacaré nada de costas.