“Plantei um monte de Ses; Colhi um monte de Quases”. A frase é de Barcímio Sicupira, ex-craque do Atlético Paranaense, do Botafogo, do Corinthians, agora comentarista de futebol.

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Se Sicupira não fosse curitibaníssimo de raiz intransplantável, Quase seria um João Saldanha da crônica, o gaúcho que virou carioca da gema. Se os curitibanos não fossem assim tão discretos, Sicupira teria em praça pública uma estátua Quase do tamanho do Homem Nu.

Sicupira é gênio. Se não tivesse sido um gênio no futebol, Quase teria sido um gênio da filosofia. Se o craque não fosse agora comentarista esportivo, Quase seria um comentarista político. Porque Se a frase não é definitiva, Quase explica o Brasil: plantamos um monte de Ses; colhemos um monte de Quases.

Se a corrupção não fosse esse inferno, aqui Quase seria o paraíso. Se não fossem os políticos que temos, Quase seríamos a nação que sonhamos. Se o PT não tivesse o Lula, Quase seria um PTB. Se o PSDB caísse do muro, Quase seria o PMDB. Se os partidos não fossem o que fossem, o Brasil Quase seria uma perfeita democracia. Se não fossem os juros que temos, Quase teríamos tudo o que merecemos. Se não fosse nossa inesgotável paciência, Quase tudo iria para o beleléu. Se não fosse o povo brasileiro, Quase teríamos perdido as esperanças. Se a esperança é a última que morre, Quase a vemos com o pé na cova. 

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Se… (parodiando a poesia de Rudyard Kipling) podes conservar o teu bom senso e a calma; Se podes dizer bem de quem te calunia; Se dás ternura em troca aos que te dão rancor; Se quem conta contigo encontra mais que a conta; Se podes esperar sem fatigar a esperança; Se podes resistir à raiva e à vergonha; Se podes encarar com indiferença igual o triunfo e a derrota, eternos impostores; Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre; Se vivendo entre os reis, conservas a humildade…

Quase alegra-te, meu caro, ainda és um homem e não um rato. 

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Sem Se e nem Quase, Sicupira é o Sicupira! É o que nos basta. Se o ídolo do Atlético, Botafogo e Corinthians não fosse homem assim modesto, eu Quase teria escrito sua biografia. Se tal acontecesse, eu Quase estaria rico. Quase tão atleticano quanto este Barcímio, Se ainda estivesse vivo Paulo Leminski diria: “Se Sicupira não fosse isso seria menos; se não fosse tanto era quase“. 

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Pouco lembrado no dia de ontem, nos 90 anos do Clube Atlético Paranaense, com esta crônica presto minha homenagem ao homem e ao craque Barcímio Sicupira.