Saudades do futuro

Ator, diretor e autor, Enéas Lour é um dos nomes mais respeitados e admirados do teatro paranaense. Com uma sólida carreira, do proscênio à carpintaria, é uma referência da cena curitibana. E referência nessa Curitiba que lhe serve de inspiração, onde agora conclama os amigos para a reocupação e revitalização do Passeio Público, a área verde no coração de Curitiba.  

O Passeio Público era uma universidade livre. Escola de convivência e ponto de encontro da Curitiba criativa. O que precisa para recuperar aquela sala de visitas da cidade?

Enéas: Abrir a caixa preta do Passeio Público. Afinal, quais são os planos para o futuro? As aves e os bichos que ainda resistem aos ensurdecedores ruídos urbanos serão removidos para o Jardim Zoológico? O que o Ibama tem contra o pandeiro, a flauta e o cavaquinho? A prefeitura precisa chamar os frequentadores e interessados, inclusive a vizinhança, para abrir essa caixa preta.

– Esse movimento de revitalização não é um tanto nostálgico?

Enéas: Não se trata de uma “mesa branca”. Não estamos chamando o espírito de Emiliano Perneta para andar de pedalinho. Estamos falando com pessoas vivas. Dizia Manoel Carlos Karam numa de suas peças de teatro: “Não temos saudades do passado. Temos, isto sim, saudades do futuro”.

– A que se deve essa injusta má fama do Passeio Público?

Enéas: O curitibano se enfurnou nas cavernas dos shoppings e deixou a rua aos cuidados da polícia. As mocinhas da cidade estão sendo banidas das calçadas, parques e praças. O espaço urbano só é perigoso quando desocupado. A paisagem é bem cuidada, o que precisa de restauro é a reputação do Passeio Público. E restaurar também, acima de tudo, o bom humor da cidade. Tem muito vinagre nessa salada.