Numa pequena amostra do que foi a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, findas as eleições os derrotados foram às ruas com o propósito de pedir a volta dos militares ao poder e o fim do governo petista. Ou desgoverno petista, segundo os saudosistas que, pelo visto, também querem o retorno do latim à liturgia católica, a retomada da disciplina de Moral e Cívica nas escolas, o regresso da calça boca de sino e, com o precedente de José Dirceu, a reabilitação de Paulo Maluf.

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Segundo a juíza e escritora Andréa Pachá, “a democracia é uma forma de governo na qual qualquer imbecil pode ir para as ruas exigir o retorno da ditadura”. E não só a ditadura e os generais. Em suas reivindicações de saudosismo, o povo unido também precisa exigir a volta das novelas “O Direito de Nascer”, “O Sheik de Agadir”; “Beto Rockfeller” e o “Vigilante Rodoviário”, o seriado com o inspetor Carlos e seu cão Lobo.

Aqui no Paraná a marcha pela ditadura foi bem menor do que manifestação na Avenida Paulista, obviamente, mas nem por isso deixou de mostrar que “saudade não tem idade” – como se chamava um dos maiores sucessos do rádio paranaense. Conforme escreveu o radialista Jamur Júnior, “Saudade não tem idade” era o título de um programa de rádio apresentado por Sérgio Fraga em Curitiba, “no tempo em que era possível circular de carro por quase todas as ruas da cidade com a janela aberta e também de ônibus, sem medo. Um tempo que deixou saudade”.

Com a mesma trilha sonora, os manifestantes curitibanos da “marcha pela ditadura e a renúncia de Dilma Rousseff” também deveriam ter exigido o fechamento do Madero e volta do até hoje insubstituível Tipiti-Dog, além do resgate do velho Bar Palácio na Barão do Rio Branco; de Wimi, Crush, Grapete, Minuano e Bidu Cola; do antigo Restaurante Gui Sopas na Visconde de Nacar; da turma do Café Ouro Verde; da Confeitaria Guairacá; da Confeitaria Cometa na Rua XV; da Casa da Manteiga; da Confeitaria Iguaçu, com o seu peru à califórnia; do Restaurante Hummel Hummel, da germânica Ingeborg Rust; do Bar do Cardoso; do Bar Caneco de Sangue; das Lojas Tarobá, cujas vitrines mostraram a primeira transmissão de TV de Curitiba; das Lojas Universal; do programa de tevê do Mário Vendramel; do Cebel, o curso de Inglês da Praça Osório; da Lá no Luhm; das Lojas Ika; do Hotel Jonscher; da “explosão de ofertas” das Lojas HM; do sofá Leleca da Disapel; das Casas 3 Coelhos; do Bamerindus; das Casas Lorusso; e da Casa das Meias, cujo telefone era 66-6666.

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Como saudade não tem idade, os saudosistas que foram às ruas pedir a volta dos generais só deixaram de reivindicar a volta de Lula, o metalúrgico – aquele saudoso líder sindical que inspirou os “Paralamas do Sucesso” a compor a canção “Luiz Inácio e os 300 picaretas”.