São Paulo é aqui!

Um dos mais clássicos pareceres sobre Curitiba é do escritor e publicitário Eloi Zanetti, quando argumenta que nossos empresários (com raríssimas exceções), não sabem pensar grande, isto é, não sabem pensar além do Rio Atuba – aquele rio que fica na saída de São Paulo: “Se o Rio Grande, que separa os Estados Unidos do resto da América Latina, faz cisão entre os ricos e os pobres, eu declaro que o Rio Atuba faz fronteira entre Curitiba e o resto do mundo”.

Curitiba é uma cigarra de várias cascas. Em 1970 se despiu da casca de provinciana, se descobriu com uma casca de primeiro mundo, com outras cantou suas virtudes pelo mundo afora, até se dar conta que, de muda em muda, daquela sua própria natureza só sobraram as cascas. Da original, foram-se os hábitos, os sotaques, a cor da casca e o Rio Atuba é agora um bairro próximo de São Paulo. Ou, como o próprio Zanetti reconhece, um dos nossos melhores de defeitos e piores qualidades é que Curitiba está ficando cada vez mais perto do Rio Tietê.

Da mesma extração dos Zanetti, até os curitibanos de quatro costados do Bar do Popadiuk percebem que as aves de arribação que aqui gorjeiam já se impõem como maioria na cidade, do Bigorrilho ao Atuba. Entre um aperitivo e outro no Popadiuk, o velho polaco Stacho pensa em voz alta:

– Meu filho Boleslau trabalhando em São Paulo, casando com uma paulista, mas, mesmo tendo netos paulistas, bem me parecendo que a periferia de São Paulo já está chegando no Rio Atuba.

– Como assim sendo, Stacho?

No gerúndio, Stacho foi alisando o bigode com o polegar e o indicador:

– Uma coisa sendo uma coisa, outra coisa sendo outra coisa. Mesmo assim sendo, aquele entrevero entre os Garibaldis, Sacis e a polícia no Largo da Ordem, no meu modo de ver tendo alguma coisa a ver com a baderna das Escolas de Samba de São Paulo. E o quebra-quebra em vários pontos de ônibus de Curitiba, entre coxas e atleticanos, mesmo sendo o Atletiba de torcida única? Tendo ou não tendo algum parentesco com baderneiros paulistas?

– São manos!

No Bar do Popadiuk, como se sabe, se a cerveja (piwo) vier quente e o bolinho de carne à moda da casa (zrazy) estupidamente gelado, algo há de errado. O polaco Stacho estalou a língua em aprovação, deu duas longas guaribadas no bigode em reflexão (em Curitiba até os espelhos pensam duas vezes antes de refletir a verdade) e sapecou seu parecer.    

– Para aprender de uma vez por todas, as Escolas de Samba de São Paulo deveriam pagar uma pena das grandes: desfilar durante três anos seguidos aqui no Centro Cívico!