Santinhas do pau oco

Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, qual das duas será canonizada primeiro? Beatificadas praticamente já foram. Mas pelas marchas e contramarchas do andor da beata portenha, por certo a madona (ou mandona) Rousseff será abençoada muito antes.

Depois de Carlito Gardel, Diego Maradona e, principalmente, Evita Peron, a canonização é tão corriqueira na alma argentina quanto aqui no Brasil, onde qualquer celebridade de novela é elevada ao altar da beatificação. Bem ao contrário dos cânones do Vaticano, todo o processo para se tornar um santo de pau oco é surpreendentemente rápido. Do dia para a noite, como é o caso das celebridades instantâneas da congregação do Big Brother Brasil. Em outros casos, o trâmite de canonização pode demorar décadas, mas todos os santos de pau oco não perdem por esperar. 

No Paraná a mais notável santinha do pau oco foi Maria Bueno. Com uma história controvertida, mas nem por isso o mito desmerece a fé dos milhares de devotos que fazem fila no túmulo do Cemitério Municipal de Curitiba. A crendice em Maria da Conceição Bueno vem de 1894, na revolução federalista. Um pouco antes de a capital paranaense ser invadida pelos maragatos de Gumercindo Saraiva, quando a lavadeira Maria Conceição Bueno foi degolada pelo namorado Inácio José Diniz, barbeiro de profissão e anspeçada do 8.º Regimento de Cavalaria. 

Anspeçada (para aqueles que não acreditam que certas palavras têm parte com diabo) é um posto que na antiga organização militar estava entre o cabo e o soldado raso. Digamos que o anspeçada seria uma espécie de sacatrapa, aquela criatura que na hierarquia do circo é encarregada de limpar o cocozão do elefante.

Maria Bueno foi assassinada enquanto rolava um baile no centro da cidade, depois de o anspeçada burlar a guarda do quartel e encontrar a amada bailando nos braços de um outro qualquer. Enciumado, arrastou-a do salão. Conforme o historiador Valério Hoerner Júnior, “ela, agastada, deu margem a que a discussão continuasse. Ele, irado, de antecedência duvidosa, ao cortarem caminho através de uma capão situado no começo da Rua dos Campos Gerais, atual Vicente Machado, próximo à praça Osório, em direção da Saldanha Marinho, não superando o transe por que passava, sacou de um punhal guardado às escondidas e atingiu-a com requintes de crueldade. E, por fim, degolou-a”. 

Pela fotografia que restou do julgamento, de fato o barbeiro tinha cara de anspeçada. Mesmo assim, sendo o próprio sacatrapa de quartel, entrou para a história por ter sido fuzilado por ordem pessoal do general Gumercindo Saraiva: “Perante o regimento formado, o mesmo em que servira como anspeçada, foi colocado de joelhos junto ao portão principal do quartel e, sumariamente e sem formalidades, liquidado a tiros”.

Longe da comparação com as santinhas de pau oco, esperamos que na próxima viagem ao exterior a presidente Dilma Rousseff coma do bom e do melhor, sem fazer nenhum segredo, e retorne ao Brasil sob nuvens de incenso.