Na noite de terça-feira, o alto executivo de multinacional entrou no elevador, apertou o botão de sua cobertura da Vieira Souto, o endereço mais caro da orla do Rio de Janeiro, e, no meio do caminho, o apagão! Depois do sufoco, ao contemplar a Cidade Maravilhosa no breu, perguntou a si mesmo: quem foi que apagou a luz do Brasil?

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Sem nenhuma comunicação, a pergunta ficou sem resposta. No dia seguinte, depois de passar os olhos no Blackberry, perguntou ao Google:

– Quem é esse tal de Jorge Samek?

O Google respondeu: “É o cara! O homem mais poderoso da América Latina. Num piscar de olhos não só pode apagar o Brasil, como também pode desligar o Paraguai da tomada e, sem nenhum esforço, inundar Buenos Aires. Na América do Sul, mesmo com a Cordilheira dos Andes no meio do caminho, o poder do presidente de Itaipu alcança o Chile: apreciador de raros vinhos, com sua influência Samek é ainda capaz de desestabilizar o conceito dos brancos e tintos chilenos”.

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Impressionado, o executivo voltou a teclar:

– Então, esse é o verdadeiro cara? Barack Obama sabe disso?

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Replicou o Google: “Sabe! A Casa Branca sabe quem são os verdadeiros donos do poder. Dos reais aos inimagináveis, o grande irmão tem todos na palma da mão. E sabe por que Jorge Samek é o melhor amigo do presidente Lula? O filho da dona Cristina pode parar o Brasil, e um apagão na candidatura de Dilma Rousseff depende desse nativo de Foz de Iguaçu”.

– Com tanto poder, por que o presidente da maior hidrelétrica do mundo foi a Brasília se reportar ao ministro de Minas e Energia?

O Google travou. Depois de alguns segundos, voltou ao ar: “Não me faças rir!”.

O executivo acompanhou o frouxo de riso, de nervoso:

– Foi a primeira vez que Itaipu parou?

“Foi a segunda vez”, informou o Google: “Quem parou Itaipu pela primeira vez foi Maria Aciolina Aires de Araújo, a primeira mulher a trabalhar na usina binacional. E é dela o seguinte depoimento escrito para a coletânea Causos de Itaipu, editado pela assessoria de comunicação social de Itaipu Binacional”:

“Não me lembro exatamente do ano, mas o caso aconteceu em 76 ou 77, quando estava sendo escavado o Canal do Desvio. Eu e outras sete moças trabalhávamos no setor de seleção de pessoal da Unicon. A convivência diária com informações sobre aquela que seria a maior usina do mundo nos deixava muito curiosas sobre o andamento da obra.

Certo dia, finalmente, tivemos oportunidade de ver o que tanto acontecia por lá. No ônibus da Unicon, íamos imaginando a cena que encontraríamos. Afinal, eram milhares de trabalhadores, um verdadeiro formigueiro humano, que trabalhavam 24 horas por dia para erguer a monumental usina. Mas sequer sonhávamos com o que estava para acontecer.

O ônibus parou no meio daquele imenso buraco, com homens por todos os lados. Repentinamente, a peãozada interrompeu o trabalho. Fez-se silêncio enquanto nos preparávamos para descer. De buracos onde rotineiramente eram colocadas bananas de dinamite, surgiam capacetes de suados peões. O clima era de expectativa. Num rompante, a reação uníssona e a plenos pulmões:

– Mulheres!

E lá estávamos nós, perplexas e acuadas diante daquele maremoto masculino. Nos pareceu que eles demoraram para acomodar os neurônios. Nós nos sentíamos como verdadeiras ETs, dada a raridade da aparição. Naquele cenário, nossa reação foi mergulhar entre os bancos do ônibus. Apavorado, o motorista gritou:

– Ninguém levanta, que vamos nos mandar daqui! – e saiu em alta velocidade.

Enfim, estávamos sãs e salvas.

Poucos brasileiros sabem que os homens que construíram Itaipu viveram longos períodos de solidão. Por isso, a reação deles foi, hoje reconheço, perfeitamente compreensível”.

***

Depois de se despedir do Google, o executivo digitou no Twitter: “No Brasil Jorge Samek é o cara, com 94.684.781 megawatts-hora nas mãos!”

Imediatamente veio a ordem de Nova York: “Convide o cara para tomar um vinho aqui na matriz”.