Sambódromo do polaco doido

Congregação da fina flor dos carnavalescos que já se foram, a quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Olimpo recebeu uma multidão de curiosos querendo notícias frescas do sambódromo em Curitiba. Sob a presidência do ex-corretor zoológico Afunfa, naquele Deus nos acuda Maé da Cuíca foi o primeiro a tomar a palavra:

– Estou abismado com a proposta de construir um sambódromo. Ora, senhores do conselho, se faltam tostões até para comprar goma arábica para as alegorias, os nossos colegas terrenos só podem estar com o rei na barriga.

– Data vênia, mas essa gente está com complexo de Joãozinho Trinta! – completou o advogado José Cadilhe de Oliveira.

O jornalista Aramis Millarch pediu a palavra:

– Para jogar um pouco mais de lenha na fogueira, gostaria de lembrar que em 1972, na primeira administração de Jaime Lerner, duas assessoras de seu gabinete, a advogada Maria Elisa Ferraz de Carvalho e a engenheira Francisca Rischbieter advogaram a ideia de, ao invés de se gastar milhões tentando forçar um Carnaval, a Prefeitura estimular eventos para atrair justamente as pessoas que detestam Carnaval. Tentativas como essa do Sambódromo, de dar um alento ao nosso combalido Carnaval, não são de hoje. Em 1973, pela primeira (e única vez) o trio elétrico Tapajós veio da Bahia e tentou fazer o povo sair atrás. A polícia, cassetete em punho, agrediu os poucos foliões que se dispunham a ir atrás do trio elétrico e os próprios integrantes do Tapajós ficaram horrorizados.

Com o tumulto generalizado, Guilhobel de Camargo subiu na mesa para falar em nome das escolas de samba do litoral:

– Não sou contra o sambódromo, mas minha proposta é de se construir a passarela do samba em Antonina. O povo humilde do litoral está precisando com urgência de um investimento turístico de grande porte.

Depois de alguns aplausos em solidariedade, o compositor Chocolate propôs passar ele mesmo um Livro de Ouro para arrecadar fundos para o Sambódromo. Os demais carnavalescos rolaram de rir com o velho golpe. 

O acatado carnavalesco Fernando Lamarão, com toda sua cancha na Marquês de Sapucaí, interveio com uma pergunta bem oportuna:

– Se a municipalidade tiver coragem de tirar a merenda das crianças, me digam como seria o nome dessa oitava maravilha de Curitiba?

– Sambódromo do polaco doido! – sugeriu Julinho da Sapolândia!

Foi um furdunço na quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Olimpo. Julinho levou uma surra de ripa, com a ala eslava prometendo atravessar o samba da Sapolândia.