Samba do gaudério doido

Passo a passo com o carnaval paulista, o grande destaque desses dias de folia foi o retorno do movimento “O Sul é o meu país”. Quando já se imaginava que essa agremiação separatista já estivesse desfilando no sambódromo das cucuias, eis que em pleno domingo de carnaval eles ressuscitaram para anunciar que nos dias 17 e 18 de março vão fazer um congresso na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis.

Toda vez que os gaudérios do “O Sul é o meu país” ameaçam botar o bloco na rua, tenho que repetir a história: nos idos de Fernando Collor presidente, sob o efeito de uma etílica indignação, proclamamos aqui no Bar Botafogo, no alto das Mercês, a separação do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul do resto do país. Recordamos então (com Arthur Tramujas) uma velha canção de Ivan Lins, dos anos 70 (O amor é o meu país) e nasceu o adesivo: O Sul é o meu país!

A bobagem se espalhou como praga no Brasil Meridional, dando cria para camisetas, chaveiros e até uma nova moeda: o pila. Depois disso, o Collor foi defenestrado, os tucanos distribuíram celular para todo mundo, Lula mandou a classe média para Miami, e fez-se um longo e significativo silêncio sobre a cisão. Fazia tempo que a bobagem não comparecia às páginas dos jornais.

Para o próximo congresso d`”O Sul é o Meu País”, em Florianópolis, sugere-se aos separatistas do sul um “Samba do gaudério doido” para o próximo carnaval. Com enredo inspirado na letra do pernambucano Ivanildo Vila Nova, repentista que em 1984 reviveu em versos um velho sentimento libertário de sua gente. A letra separatista chegou a fazer sucesso no Nordeste, na voz de Elba Ramalho.

NORDESTE INDEPENDENTE

Já que existe no Sul esse conceito / Que o Nordeste é ruim, seco e ingrato / Já que existe a separação de fato / É preciso torná-la de direito / Quando um dia qualquer isso for feito / Todos dois vão lucrar imensamente / Começando uma vida diferente / De que a gente até hoje tem vivido / Imagine o Brasil ser dividido / E o Nordeste ficar independente

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Dividido a partir de Salvador / O Nordeste seria outro país / Vigoroso, leal, rico e feliz / Sem dever a ninguém no exterior / Jangadeiro seria senador / O cansado de roça era suplente / Cantador de viola o presidente / E o vaqueiro era o líder do partido / Imagine o Brasil ser dividido / E o Nordeste ficar independente

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O Brasil ia ter de importar / Do nordeste algodão, cana, caju / Carnaúba, laranja, babaçu / Abacaxi e o sal de cozinhar / O arroz, o agave do luar / A cebola, o petróleo, o aguardente / O Nordeste é auto-suficiente / O seu lucro seria garantido / Imagine o Brasil ser dividido / E o Nordeste ficar independente

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Povo do meu Brasil / Políticos brasileiros / Não pensem que vocês nos enganam / Porque nosso povo não é besta.