Salve, Flash Gordon!

Mobilidade urbana está na moda. Nesse quesito, modéstia à parte, nós curitibanos não temos porque nos queixar. Curitiba é a capital com a maior taxa de carros na garagem: 55,4 carros a cada 100 habitantes. Com tamanha fartura, o sonho dos curitibanos não é comprar mais um carro, é construir mais um puxadinho para aumentar a garagem.

Antigamente se dizia que em Curitiba os moradores da Água Verde só tinham uma diversão: lavar o carro na calçada, aos sábados. Agora, com 55,4 carros a cada 100, uma família da Água Verde com quatro filhos se diverte também aos domingos. E, por conseqüência, temos a questão da garagem. Dizia um dos nossos urbanistas que o curitibano padrão, além de falar mal das calçadas, empilha os quatro filhos nos beliches de um pequeno quarto, mas não abre mão de uma garagem ampla e vistosa ao lado da casa.

 

É lógico, Água Verde já não é mais o mesmo. A construção civil passou um trator no bairro e, aguardem, lá ainda veremos uma cidade inspirada na arquitetura Flash Gordon. O que é a arquitetura Flash Gordon? São aqueles prédios futuristas copiados das histórias em quadrinhos do herói espacial criado  por Alex Raymond.

Em Curitiba, a mais antiga construção estilo Flash Gordon é o Edifício Moreira Garcez, quase em frente à Boca Maldita. Sonho meu, gostaria muito de ver a nave espacial do Flash Gordon no topo do Moreira Garcez.

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Voltando à mobilidade urbana, se depender dos discursos dos candidatos a prefeito, em quatro anos Curitiba terá uma paisagem urbana digna de Alex Raymond, com uma diferença: Flash Gordon vai deixar a nave espacial estacionada no Moreira Garcez para conhecer a Água Verde de metrô.

Antes do metrô, enquanto Flash Gordon persegue os inimigos nas galáxias, o próximo prefeito precisa pensar numa idéia que não está no gibi. Não é nenhum metrô, mas depois do sucesso do Velib”, as bicicletas públicas de Paris, os franceses criaram uma nova moda: o carro compartilhado.

Funciona assim: com uma anuidade de 100 euros, o usuário recebe uma carta magnética cuja posse dá acesso a uma frota de veículos distribuída em vários estacionamentos da cidade, abertos 24 horas por dia.  A reserva é feita pela internet ou telefone até 5 minutos antes de pegar o veículo. A hora de devolução deve ser indicada com antecedência, mas o carro (Fiat 500, Smart ou Peugeot 207) não precisa ser devolvido no local de origem da locação, sem nenhum custo adicional.  O quilômetro rodado custa em torno de 35 centavos mais 4 euros a hora. O combustível, o seguro e a manutenção correm por conta da locadora. Para quem precisa usar carro por uma duração curta ou ocasionalmente, só não é mais barato que pegar o carro emprestado do pai.

A idéia até certo ponto simples começou em 2001. Três amigos de Bordeaux colocaram o carro de um deles à disposição de 15 pessoas. Foi o início da empresa Autocomm. Ela tem hoje 12 carros e 130 aderentes. A expectativa dos três empresários pioneiros é que em 2010 eles terão 50 carros para 1.000 usuários. Na Suíça, o sistema do carro compartilhado Mobility tem 75.000 clientes e 2.000 carros à disposição.

Em Barcelona o carro compartilhado só não circula nas ramblas. E até em Florianópolis foi lançado um modelo inédito de aluguel de carros chamado “Diária compartilhada”. Inspirado nos modelos europeus, a empresa Inova conta ainda com carros adesivados com propaganda de terceiros que custeiam parte da diária, fazendo o valor da locação cair pela metade.

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Se posto na prática em Curitiba, o sistema teria que receber algumas modificações. Principalmente para os usuários da Água Verde, precisaríamos de garagens compartilhadas, para todos compartilharem da lavagem dos carros na calçada aos sábados e domingo.

Em se tratando de mobilidade urbana, sonho mais alto: prefiro compartilhar da nave espacial do Flash Gordon.