Do caderninho de ideias do arquiteto Jaime Lerner, a Rua 24 Horas quase se transformou numa rua sem saída de futuro incerto. Agora parcialmente ressuscitada e não mais em tempo integral, ainda assim aquele cartão postal não se extraviou por mudança de endereço e razão social.  

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Quando ganhou vida, no dia 11 de setembro de 1991, a Rua 24 Horas não só foi só festejada pela população notívaga. Ganhou a imprensa nacional e o belo relógio frontal foi para as capas de revistas, somando-se a outros ícones dos “Anos Lerner” que elevaram a autoestima dos curitibanos.

O primeiro jornalista a revelar a ideia foi Aramis Millarch: “A implantação de uma Rua 24 Horas é, por enquanto, um projeto na cabeça do prefeito Jaime Lerner. Estuda-se qual o melhor local para que através de estímulos diversos, sejam animados os pequenos empresários a ocuparem um espaço que, em pouco tempo, poderá ter grande movimentação”.

Nascida na prancheta do IPPUC para atender a demanda noturna, que na época não tinha onde se socorrer, a Rua 24 Horas perdeu freguesia depois que a cidade ganhou outros serviços noite e dia. Do supermercado aos centros gastronômicos noturnos. Não que o espírito da rua tenha caducado. A cidade ganhou outros pontos de encontro, a insegurança tomou conta da noite e os cavernosos shoppings centers cravaram um punhal nas costas do comércio tradicional de rua.

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As galerias do centro foram os nossos pioneiros shoppings: na Galeria Lustoza eram vizinhos o Bar Cometa, a Confeitaria das Famílias, a galeria Schaffer (antes confeitaria), com seu Piano Bar e o Cine Groff. Vizinhos da Galeria Andrade, que desemboca no velho prédio da UFPR com suas lojas de panelas de ferro e utensílios domésticos. A galeria do Edifício Asa ainda abriga lanchonete, salão de beleza e, de priscas eras, a loja “A Princesa” ao lado do escritório da extinta PanAm. Na Galeria Tijucas encontramos ainda firme a Eletrolândia, o Café da Boca e saudades da loja de botões Gabi. A lista é de bom tamanho, passando pela Galeria do Comércio Osório até a Galeria Suissa.

Para os insones, a banca de revistas e livros da Rua 24 Horas não foi a primeira, é bom lembrar: quando a população não chegava a um milhão de habitantes, já existia uma banca de jornais e revistas 24 horas na cidade. Funcionava na galeria de acesso do Palácio Avenida, com entrada na Travessa Oliveira Belo. Era a chamada “Banca do Guimarães” que nas frias madrugadas dos anos 1960 consolava jornalistas, artistas, intelectuais de plantão e outros integrantes da fauna boêmia que, tempos depois, ganharam a Rua 24 Horas como último reduto.

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