Roscampeio

Das espécies curitibanas em extinção e bravamente resistentes, Luiz Alfredo Malucelli é um mico-leão-malu-da-cara-rosada-de-vinho ainda encontradiço em alguns poucos e privilegiados pontos de seu habitat natural. Tem dias que ele pode ser encontrado na Boca Maldita. Hoje, por exemplo, o Malu vai atravessar a menor avenida do mundo (a Avenida Luiz Xavier, endereço da Boca) para autografar no Teatro do HSBC as primeiras edições saídas do livro: “Casos do Malu: histórias, receitas e muitas risadas”.

A obra, ao contrário da expectativa de seus tantos leitores, é do jornalista Gilberto Fontoura, amigo de Malu desde os anos 1960, justamente eleito para escrever esta primeira biografia do nosso mico-leão-malu-da-cara-rosada-de-vinho. Primeira biografia porque, dizem na Boca, “uma é pouca, duas não bastam e a terceira teria que ser desautorizada”.  

Fontoura confessa que já se defrontou com muitos desafios: “O primeiro programa de rádio, a primeira vez na televisão, a primeira transmissão de futebol no Maracanã. Porém, escrever o livro com a história fantástica da vitoriosa carreira profissional do Luiz Alfredo Malucelli supera todos.

– Você vai escrever meu livro.

– Eu???

– Você mesmo, Gilberto. Ninguém conhece melhor minha carreira.

Deixei passar algum tempo, mas o pedido voltou.

– Tá bom, Malu. Vou pensar.

– Nada disso. É você e está acabado!”

Malu não poderia ter abençoado melhor escriba, dois curitibaníssimos que são: nadaram no tanque do Bacacheri, dançaram ao som da orquestra do Genésio, assistiram à matinê do Cine Luz, viram fechar a Churrascaria Bambu e os bares Pérola e Cometa, andaram de pedalinho no Passeio Público depois de uma noitada na boate Tropical e, acima de tudo, sabem o significado da palavra “roscampeio”.

Segundo o “dicionarista curitibano” Carlos Alberto Mercer, a palavra “roscampeio” servia praticamente para qualquer coisa. No futebol, quando um armador dava um passe longo, comentava-se: “Ele deu um roscampeio”. Quando a moça dava o fora no rapaz, os amigos diziam, rindo: “Ele bem que se esforçou, mas ela lhe deu um roscampeio”.

A expressão veio de um grupo de estudantes que ficava na Rua XV em frente à Tecelagem Imperial, “vendo o desfile das raparigas em flor”, conforme contava Nireu Teixeira. Mas como ficar parado muito tempo cansa, um deles sugeriu: “Vamos até a Casa Roskamp, para ver se o movimento por lá está melhor”.

Até que um dia, para abreviar as coisas, um deles sugeriu: “Vamos dar um roskampeio!”. E estava inventada a gíria do “roscampeio”.

Na medida curitibana, um “roscampeio” compreende a distância que ia da Tecelagem Imperial até a Casa Roskamp. São seiscentos metros, mais ou menos, mas Nireu Teixeira dizia que na Rua XV tem gente no “roscampeio” há mais de 50 anos.

Então ficamos de combinação: hoje, às 18 horas, vamos dar um roscampeio para comprar o livro de Malu.