Cinquenta anos depois, o Mercado Municipal voltou no tempo, quando o polaco colhia repolho no quintal do Pilarzinho e vinha de carroça vender a horta no Largo da Ordem. Com a inauguração do Mercado Municipal de Orgânicos de Curitiba, os repolhos do Stanislaw ganharam uma vitrine única no Brasil, sem agrotóxicos e aditivos químicos.

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Na manhã de ontem, se um freguês do Mercado Municipal entrasse desavisado na ala de 3.700 metros quadrados e dois andares que estava sendo inaugurada, bem poderia perguntar ao prefeito Beto Richa:

– Que prédio mais bonito é esse, prefeito? É a ala dos não-fumantes do Mercado Municipal?

A primeira impressão que se tem do primeiro mercado público de orgânicos do Brasil realmente é a de um local dedicado à saúde. Não só pelo aspecto dos produtos, mas também e, principalmente, pela arquitetura do novo anexo do velho mercado. Do piso ao teto, nos dois andares o branco predomina e faz contraste com o colorido babilônico da feira tradicional. É tudo tão limpo e nos seus devidos lugares que boa parte das 50 mil pessoas que lá circulam semanalmente pode imaginar que se trata da réplica de um moderno mercado de Berlim, com aqueles requintes de organização que só um arquiteto alemão poderia conceber. No entanto, quem desenhou a obra foram os bravos arquitetos do Ippuc.

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No ato inaugural, uma das autoridades federais presentes falou o que os curitibanos mais críticos não gostam de ouvir, e torcem o nariz: “Por primeiro, isso podia ser feito em Curitiba”. De fato, é “coisa de primeiro mundo”: o prédio conta até com sistema de captação de água de chuva. Uma calha especial no telhado, que transporta a água para um reservatório para ser usada em ambientes e serviços que não necessitam de água potável, como limpeza de piso e sanitários. E o branco total tem explicação: a arquitetura do ambiente interno do Mercado de Orgânicos favorece a luminosidade natural e ajuda na economia de energia elétrica.

Realizado em parceria com o governo federal, Lula não sabe o que perdeu por não vir inaugurar uma obra que renderia alguns bons votos para dona Dilma, pelo menos entre as donas de casa e os vegetarianos. O investimento foi de R$ 3,1 milhões. São 3.700 metros quadrados, com dois pisos, mais estacionamento. O novo mercado reúne 22 espaços comerciais, ocupados por duas lanchonetes, um restaurante, três mercearias, um açougue, uma loja de artesanato, uma loja de cosméticos, uma loja de confecção e oito bancas de vegetais e produtos processados.

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No primeiro piso ficam as lojas e bancas de hortifrutigranjeiros. Na parte de cima do mercado um anfiteatro servirá para cursos e reuniões para lojistas, agricultores e empresários. A ideia é estimular rodadas de negócios orgânicos. O andar conta também com uma cozinha, especialmente montada para cursos de culinária.

Se o velho mercado já era um local seguro (os nossos japoneses não roubam nem na ponta do lápis), agora vai ficar mais seguro ainda: o prédio conta com segurança monitorada por 12 câmeras instaladas em pontos estratégicos. E a senhora dona de casa pode também ficar segura que não vai comprar gato por lebre criada sem anabolizantes, garante e prefeitura: “Todo o circuito de comércio dentro do mercado conta com certificação orgânica. Esse controle reforça e garante aos consumidores a procedência de produtos industrializados e naturais, produzidos sem agrotóxicos e outros aditivos químicos, e também o espaço onde eles são comercializados”.

Durante a construção, nos preocupavam os novos restaurantes, que os arquitetos fossem desenhar alguma coisa parecida com uma “praça de alimentação”; e perdão por usar essa abominável expressão.

Pois são duas as “praças de alimentação”. Uma ganhou o nome de Poty Lazzarotto e a outra, com louvor, chama-se Manoel Carlos Karam. Ou melhor, “Praça do Karam”.