Segundo os jornais italianos, o navio Costa Concordia naufragou em função de uma manobra conhecida como “inchino” (reverência). O comandante Francesco Schettino teria se aproximado da Ilha de Giglio com o propósito de fazer uma reverência, uma homenagem, ao chefe de garçons Antonello Tievoli, que nasceu no local, e também um ex-comandante chamado Mario Palombo.

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– Venha ver, Antonello, estamos em Giglio – teria dito Schettino ao chefe de garçons.

De acordo com o jornal Corriere Della Sera, Tievoli achou que o comandante estava brincando. Não estava e, para seu espanto, o chefe de garçons desembarcou na porta de casa.

O nome Giglio merece o “inchino” não só de uma nave daquele porte, merece também a reverência dos paranaenses. Franco Giglio era o nome do artista plástico italiano para quem, até hoje, muitos que o conheceram tiram o chapéu. Giglio nasceu em Dolceacqua (quase na divisa com a França), em 1937, vindo para o Brasil aos 21 anos. Aqui Giglio tornou-se muralista, tendo realizado trabalhos em mosaicos importantes para a cidade, entre eles um mural na Assembleia Legislativa e a entrada do Cemitério Municipal. Sempre de belo humor, o seu grande círculo de amigos tinha no centro Poty Lazzarotto, que confiou ao italiano a realização de um de seus painéis em azulejos mais vistosos, o Monumento ao Tropeiro.

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Em 1975 Giglio casou-se com a curitibana Roseli de Almeida e retornou à sua querida Dolceacqua. Residiu ainda em Mantova e Verona, onde em 1979 um incêndio devastou grande parte de seus antigos desenhos. O artista morreu em abril de 1982, aos 44 anos de idade. Roseli o seguiu alguns anos mais tarde.

Quando em Dolceacqua, Jaime Lerner era um dos curitibanos que desviava sua rota na Europa para fazer um “inchino” a Giglio. Como se sabe, numa boa cidade italiana é possível achar uma pessoa com três gritos, um deles sendo no interior de um bar , como aconteceu com Fani e Jaime Lerner. Ao chegar em Dolceacqua, o então prefeito de Curitiba parou na ponte medieval que dá entrada ao “paesino” e, com as duas palmas da mão entorno à boca, deu o primeiro grito:

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– Franco! Franco Giglio!

Um garoto veio correndo:

– Il pittore brasiliano? No bar do Pastio!

Dentro do bar, entre a névoa de fumo e o tilintar de copos, o segundo grito:

– Franco! Franco Giglio!

“Il signore” Pastio pegou Jaime e Fani pelas mãos e os levou a um sobrado vizinho.

– Franco! Franco Giglio! – gritou pela terceira vez o arquiteto.

E o pintor apareceu na janela para receber o “inchino” dos brasilianos.