Restaurante por tonelada

Como uma conversa puxa a outra, a crônica sobre o livro “Reflexos e Sombras”, do cartunista Saul Steinberg , suscitou outro assunto relativo ao cheiro, mas que compete ao estômago. Assunto este no qual nós curitibanos somos especialistas, considerando-se que Santa Felicidade é uma Disneylândia dedicada à gula, com o segundo maior restaurante do mundo, e que aqui mudamos o conceito de restaurante por quilo, agora sendo por tonelada.   

Para Steinberg, perguntar a um passante onde se come bem é como perguntar qual é a sua classe social, porque ir a um restaurante é um fato social, não gastronômico: “Em Nova York, como se sabe, com tantos estrangeiros e restaurantes de todo o tipo, a situação não é típica dos Estados Unidos”, esclarece o cartunista, para contar que ele esteve num grande restaurante em Cincinnati em cujo centro havia uma pista de patinação no gelo com números de teatro de variedades: “O lugar todo estava cheio de famílias com crianças, grandes mesas para celebrar um aniversário, as crianças com estranhos chapéus na cabeça. Isso era um restaurante: música, variedade, iluminação especial; nem um único momento de sossego para comer. Se o cliente pedia uma salada… bem, uma enciclopédia teria tido o mesmo sabor, uma enciclopédia antiga; eram folhas velhas de alface, se é que não eram páginas amarelas. Os pratos de carne eram todos iguais, com nomes diferentes; acho até que havia nomes franceses”.

Para concluir a ironia, Saul Steinberg lembra que quando tinha um estúdio na rua 60, em Nova York, via da janela dois restaurantes: “o Veau d´Or, na 60, e outro restaurante francês, na 61. No meio, no pátio interno, havia uma cozinha que servia aos dois restaurantes, e os dois restaurantes eram chineses”.

O Barão de Tibagi (como o publicitário Sérgio Mercer assinava suas críticas gastronômicas) já dizia coisa semelhante, suspeitando que uma série de dutos subterrâneos distribuía frango e polenta de uma só cozinha para todos os restaurantes de Santa Felicidade.

“Se non è vero, è bene trovato”, diria um italiano, mas o que podemos nos gabar de Curitiba é que só aqui temos restaurantes por tonelada. Porque outra coisa não são essas novas churrascarias que começaram no Batel e se espalharam pela Avenida das Torres. Além de 302 espécies de carnes, servem outras 302 variedades de massas, sushi, sashimi, quibe, frutos do mar e na sobremesa, só falta uma pista de patinação no gelo para os nossos garçons acrobatas mostrarem suas habilidades com o espeto corrido.