Restauração

Está restaurado para a história um desenho importante para a iconografia paranaense: o retrato de Dalton Trevisan, numa litografia de Poty. Avesso à exposição pública, Dalton não se reconhece na imagem que voltou à luz da verdade graças aos publicitários Marco Bassetti e Ernani Buchmann.

A litografia de 1949 está no álbum Poty, o artista gráfico, de Orlando da Silva, conta o “arqueólogo” Ernani Buchmann: “Eu já não lembrava dele. O livro-álbum de Orlando da Silva sobre a obra do Poty, com projeto gráfico de Miran, edição da Fundação Cultural de Curitiba, na época sob a criativa direção de Sérgio Mercer, Constantino Viaro e Lúcia Camargo. Pois bem, o livro traz a páginas tantas um desenho de 1949 retratando alguém que a legenda garante ser o pintor Pancetti. O já falecido procurador de Justiça Eduilton Bassetti, que deixou o exemplar do livro de onde foi escaneado o desenho, garantia que o retratado é Dalton Trevisan. Alguém duvida? Os pudores do vampiro jamais permitiriam que ele admitisse. Ou seria Pancetti sósia do vampiro?”

Pela restauração da verdade, Ernani solicita: “Solda, Dante, Wilson Bueno, manifestem-se!”

Também pela verdade, é preciso dizer que a curadora da obra de Poty, Maria Ester Teixeira Cruz, seria a pessoa certa para atestar o retrato. Mesmo assim, podemos afirmar que é o próprio Dalton por alguns fatos: a litografia de 49 coincide com os dois anos de Poty como ilustrador da revista Joaquim, de 1948 a 1949, quando os dois jovens artistas muito conviviam. Não é retrato de Pancetti, nem sósia do Vampiro. Isto fica claro consultando fotos e o autorretrato do pintor que se notabilizou por suas belas marinhas. E temos o testemunho de Eduilton Basseti, amigo de escola de Dalton e Poty.

Marco Bassetti, filho do advogado Eduilton e da médica pediatra Eny Pioli Bassetti, nos conta que a trinca produzia gibis no Gymnásio Paranaense: Dalton escrevia os roteiros, Poty desenhava e Eduilton vendia para a gurizada. Nas histórias em quadrinhos, a parceria de Dalton com Poty deve ter produzido algumas raridades que só mesmo um arqueólogo poderia descobrir: em 1938, então com 14 anos, Poty publicou no Diário da Tarde “Haroldo, o Homem Relâmpago”, uma aventura em seis capítulos que bem poderia ter Dalton Trevisan como roteirista. O sucesso de Poty como cartunista foi tanto que no ano seguinte o mesmo Diário da Tarde criou o “Concurso de legendas” para os desenhos do menino Potyguara. Os escolares de Curitiba disputaram 24 prêmios em dinheiro no valor de 300$000 e não se tem notícia de que Dalton Trevisan tenha participado do concurso, que tinha como regulamento redigir uma narrativa de aventuras de gangsters nacionais. A história deveria se passar no Paraná e, em linhas gerais, seria uma aventura entre contrabandistas.

Para completar a constatação de Marco Bassetti e Ernani Buchmann, de fato os pudores do Vampiro exigiram que Poty Lazzarotto nunca revelasse o nome do modelo. Assim se explica porque o escritor e gravurista Orlando da Silva foi levado a legendar a litografia como sendo o retrato de Pancetti.