Com a premissa de recuperar a memória das transformações de Curitiba, sábado passado um grupo de pesquisadores reuniu alguns dos mais importantes jornalistas da década de 70 para responder a duas questões: Na revolução urbana de Jaime Lerner, como é que Curitiba falava de si mesma e como é que os jornalistas interpretavam aquilo que estava sendo feito?

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Em torno de um farto almoço (brunch) regado a café, sucos e champanhe, foram quatro horas de reminiscências que poderíamos chamar de “repasto das velhas águias”. Além dos pesquisadores e arquitetos Rodrigo Duarte, Ana Claudia Santiago e Wilson Rebello, compareceram à mesa redonda no Instituto Jaime Lerner: Aroldo Murá, Adherbal Fortes de Sá Júnior, Paulinho Vítola, Maí Nascimento Mendonça, Jaime Lechinski, Júlio Zaruch, Gilberto Ricardo dos Santos e, como palpiteiro, este colunista.

 Jaime Lerner, que na próxima segunda-feira (16) lança mais um livro, apareceu para o primeiro brinde de champanhe e dar o ar de sua graça com dois conselhos de bem viver: nunca frequentar lugares com gente mais feia que você mesmo; e jamais viajar de avião com aeromoças velhas e de humor rançoso. Antes de se retirar do repasto, para não constranger os depoimentos das velhas águias, Lerner contou que nessas suas andanças pelo mundo chegou à conclusão que se conhece o desenvolvimento de uma sociedade pelo tamanho dos seus banheiros: no primeiro mundo fazem tudo num salão de baile; no terceiro fazem o mesmo num cubículo pouco maior que uma caixa de sapatos.

Velhas águias que viveram os anos de ditadura amordaçadas pela censura, os jornalistas ressaltaram que se as ideias da equipe de Jaime Lerner fossem realizadas neste início de século, a revolução urbana de Curitiba não teria saído do papel. Obras fundamentais e emblemáticas, como o Sistema Trinário, a Rua das Flores e o Parque Barigui seriam embargadas, contestadas e ainda estariam penduradas nos escaninhos da Justiça Federal.

Em plena ditadura, quando as consultas populares eram impensáveis, os automóveis da Rua XV de Novembro cederam espaço aos pedestres. Trinta e nove anos depois, pergunta-se: com a democracia restaurada e a política acima de tudo, será que os comerciantes e alguns outros contrários não conseguiriam embargar a Rua das Flores?

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No último brinde ao repasto, os ouvintes das velhas águias lamentaram a ausência dos próximos candidatos a prefeito. Eles deveriam estar presentes para aprender algumas lições sobre Curitiba.