Nos últimos dez dias participei de uma verdadeira “baratona”. Convidado para participar do júri do “Boteco Bohemia”, a eleição do melhor petisco da cidade, encerrei meus trabalhos. Agraciado com o “sacrifício” de apreciar dez dos vinte botecos inscritos, confesso que bebi e comi muito bem.

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Do “Boteco Bohemia” é a segunda vez que participo como “sócio-atleta”. Em 2007 fui convocado para a primeira edição e de lá para cá, mesmo não acompanhando o dia-a-dia de todos os botecos da cidade (sou “sócio-atleta” efetivo do Bar Ao Distinto Cavalheiro), é notável o tanto que o “Boteco Bohemia” contribuiu para o progresso da nação adicta ao balcão. Do bolinho de carne ao bacalhau, nossos acepipes ganharam contornos de 5 estrelas.

O escritor Fernando Pessoa Ferreira, na “maldita” crônica “Curitiba, a Fria”, foi avalista: “Digo-vos que Curitiba é o paraíso dos gastrônomos de caixa baixa. Um paladar requintado saberá tirar vantagens até das noites mais úmidas e geladas.” Eram raros os botecos naquela Curitiba onde “vivia uma estranha tribo que se alimentava de pinhões” (a frase era do jovem cronista dos antanhos e hoje consagrado jurista René Dotti), mas poucos e bons: “Um pequeno restaurante, por exemplo; quase um botequim, com o nome de Cinelândia. Mas lá é servida uma batida imortal, que você poderá acompanhar saboreando camarões inenarráveis, colhidos horas antes nas mornas águas da baía de Paranaguá.”

Quem te viu, quem te vê. Nossos botecos não apenas cresceram na quantidade, cresceram em qualidade e sofisticação. Essa estranha tribo leitE quentE, é verdade, ainda continua se alimentando de pinhões, mas observem os pinhões que agora nos servem à mesa: seriam de fazer o cacique Tindiquera, o touro-sentado dos pinheirais, ficar de água na boca.

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Ao indicar o umbigo da povoação, diz a lenda que Tindiquera observou a direção do vento e, fincando no chão a lança, disse aos caras-pálidas:

– Táki-Keva!

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Traduzindo para o leitE quentE do século XX, teria dito o cacique Tingui:

– Aqui-Boteco!

Conheci ou voltei a visitar dez botecos nos quatro cantos da cidade. Nesses últimos excepcionais dez dias, quando o Sol veio nos visitar como convidado de honra do “Boteco Bohemia”, as papilas não nos deixam mentir: de zero a dez, nota 11 para a inventividade dos nossos mestres-cucas da esquina.

No meu modesto parecer, ainda não chegamos ao alto das panelas, onde se exibem os botequins de Lisboa (Ah!… aquelas tascas suadas de alho!) e Belo Horizonte, a capital mundial da comida de boteco.

De resto, que os contendores venham nos visitar no nosso próprio campo: de lambuja, ofereceremos a básica “carne-de-onça” para o pontapé inicial. E não tenham dúvidas: no final do confronto vamos bradar de pandulho cheio: “É canja! É canja de galinha! Tragam outro time pra enfrentar nossa cozinha!”

O “Boteco Bohemia” ainda está em cartaz, nos melhores palcos da cidade até 13 de setembro. A premiação festiva será no dia 19 de setembro, no “Espaço Saideira” do Rebouças. Que vença o melhor, entre os melhores!