Ao digitar a coluna de ontem, um Fritz no ouvido dizia que o assunto passaria dos 4.000 caracteres regulamentares. Sendo Curitiba quase conurbada com Joinville, e tendo os alemães paranaenses conexões catarinas, com grandes possibilidades ex-funcionários da Consul iriam se manifestar. Batata! Batata com marreco e repolho roxo.

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Não é à toa que muitos dos técnicos da Volkswagen trabalham em São José dos Pinhais e moram em Joinville. Desde o início das invasões germânicas, os imigrantes primeiro faziam um estágio na “Cidade dos Príncipes”, para depois ganhar o mundo via Curitiba. Com Juarez Machado foi assim. E se alguém quer ver o governador Luiz Henrique da Silveira enfurecido, basta dizer ao ex-prefeito da “Manchester Catarinense” que Joinville é o bairro mais distante de Curitiba.

Assim posto, segue a mensagem que nos enviou Maurício Koch:

“Sou curitibano e trabalhei na Consul na década de 80. Foi meu primeiro emprego depois da formatura, e fiquei uns seis anos por lá. A história que você contou é mais ou menos a mesma que nos era contada pela turma que viveu os primeiros anos da empresa.

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Só tenho mais alguns detalhes: o Rudolf era fabricante de anzóis em Brusque. O Freitag era naqueles dias dono de oficina de bicicleta e, rezava a lenda, a tal primeira geladeira a querosene de Joinville foi feita na oficina de bicicleta do Freitag e do Holderegger. Na falta de um isolamento térmico para a parede da geladeira, eles não tiveram dúvidas e a encheram com palha de arroz.

Bom, o Rudolf não sei que fim levou. Mas, na década de 80, o Holderegger estava aposentado e de vez em quando era visto vagando pela fábrica velha, enquanto o Freitag era prefeito de Joinville.

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A Consul já era da Brastemp, que também já era da Whirpool (americana), e foi vendida muito tempo antes porque quis fazer uma fábrica de compressores: a Embraco, que depois da compra pelos americanos virou a maior do mundo.

Tinha um montão de gente empregada por lá, aprendi muito naqueles anos. Devo grande parte de minha formação como profissional à loucura dessa turma de catarinas e alemães que fundaram uma empresa para fabricar geladeiras numa esquina do mundo.

Um abraço, Maurício.”

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Já o leitor com as iniciais HW (também alemão, por suposto) tirou do fundo do baú o depoimento de Guilherme Holderegger, um dos fundadores da Consul, publicado em 1948.

“Não foi fácil. A sorte é que depois de um ano estudando uma geladeira bem velha, apareceu uma outra para consertar que trazia na parte traseira um papel com todo o esquema. Aí descobrimos que, além da amônia, precisaríamos de gás hidrogênio. Nós mesmos fabricamos o hidrogênio lembrando das aulas de química do colégio. Depois de algumas explosões e um começo de incêndio conseguimos.

Difícil era colocar o hidrogênio lá dentro da geladeira. A gente tinha que improvisar, não tinha nada mesmo, então acabamos usando uma bomba de encher pneu de carro daquelas bem grandes. Começou a refrescar, ainda não gelava, mas sabíamos que o caminho era aquele.

E conseguimos fazer funcionar a outra geladeira, aquela que o homem tinha deixado lá há mais de um ano. Aí nós decidimos: agora vamos é construir um bicho desses. Nós construímos a geladeira no facão, não tínhamos ferramenta para trabalhar com chapa. E isto era nas horas vagas, porque nós tínhamos que ganhar o leite das crianças. Eu já era casado e tinha dois filhos. Depois de mais um ano de trabalho, a geladeira ficou pronta, conseguimos que ela funcionasse. Ainda não era perfeita, mas fazia um friozinho, um gelinho, estava ótimo!”

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Para refrescar a memória, o tema rende um catatau: além da saga da Prosdócimo, tem ainda a história de um alemão da Água Verde que, em 1946, inventou uma geladeira especial para o Banco de Sangue da Santa Casa de Misericórdia: para não prejudicar o estado de conservação do sangue, o refrigerador não podia tremer. Ficou tão firme quanto uma rocha.