Reflexões sobre entradas e saladas

Não se sabe se as promessas de final de ano foram motivo de pesquisa de algum cientista inglês. O que se sabe é que nove entre dez promessas na entrada do ano se referem ao sobrepeso. Enxugar gorduras, afinar a silhueta, perder a barriga e mergulhar de cabeça e estômago num mar de saladas.

Na guerra contra a obesidade, o mau humor da balança nos leva às reflexões do escritor Alexandre Dumas sobre as saladas, em suas “Memórias gastronômicas”. Inspirado pelo estômago, dizia o privilegiado cérebro do escritor francês:

“Deus me proteja de cometer um ato de hostilidade contra um gênero de salada qualquer. Em matéria de cozinha, como em literatura, sou eclético. Entretanto, não posso deixar de dizer que a salada não é absolutamente uma alimentação natural para o homem, por mais onívoro que seja este. Só os ruminantes nasceram para pastar folhas. O homem não foi feito para pastar, mas para contemplar o céu. É verdade que, se o homem passasse a vida contemplando o céu, isso o alimentaria ainda menos que comer folhas. Em primeiro lugar, há a expressão que diz sobre um imbecil: ‘É uma besta pastando!’. Depois, a conformação de seus intestinos, que é a mesma, convém admitir, tanto nos imbecis como nas pessoas ilustradas. São os bois os destinados a comer capim e a concorrer ao título de boi gordo. Para isso, têm quatro estômagos e cento e trinta e cinco a cento e quarenta pés de intestino delgado; além disso, para fazê-los chegar aos mil e trezentos quilos, temos que obrigá-los a beber até oitenta litros de água por dia. Não que a água engorde positivamente, mas, ao diluir os alimentos, ela propicia aos órgãos da digestão a faculdade de extrair e absorver suas partes nutritivas. O leão e o tigre, que não comem vegetais crus, mas carne viva, têm apenas quinze pés de intestino delgado, e, como não bebem sequer um litro de água por dia, nunca ficarão gordos. Toda essa digressão tem como objetivo provar que o homem não nasceu para comer salada, tendo sido o excesso de civilização que nos levou a tal.”

Com Alexandre Dumas nos encorajando a declarar guerra aos vegetarianos, anote na sua agenda para 2015 o que dizia o Rei Momo ao seu nutricionista:

“Antes de cortar a carne vermelha e comer mais frutas e vegetais, eu lhe pergunto: o que a vaca come? Feno e milho. O que é isso? Vegetal. Então um bife nada mais é do que um mecanismo eficiente de colocar vegetais no seu sistema. Precisa de grãos? Por que não comer o frango?”.

As reflexões de Alexandre Dumas e do Rei Momo fazem pensar os fracos de propósitos. Os de pouca ou nenhuma determinação para emagrecer. Neusinha Brizola, quando lhe abatia uma vontade incontrolável de fazer exercícios, deitava na cama até a vontade passar. O método era certeiro.

Há controvérsias, no entanto o método da filha de Leonel Brizola tinha lá seus fundamentos: se caminhar fosse saudável, o carteiro seria imortal. Baleia nada o dia inteiro, só come peixe, só bebe água e é gorda. Coelho corre, pula e vive 15 anos. Tartaruga não corre, não faz nada e vive 450 anos.

Neste último dia do ano, após muito refletir sobre a influência da salada nos desígnios de 2015, augúrios de que tudo se realize e, ao herói que chegar a perder pelo menos cinco quilos, mais do que ninguém merece seu próprio busto (sem barriga) em praça pública.

Boas entradas, ótimas saladas!