Recomeçou o jogo, façam suas apostas

Para os profissionais, eleição é um jogo em que eles nunca saem perdendo. Estes crupiês são mais encontradiços no PMDB, jogadores que apostam em todas as frentes e que agora vão dar as cartas no governo de Dilma Rousseff. Já os amadores veem a democracia como jogo de sorte e azar, frequentadores de um cassino onde a roleta é a urna eletrônica.

Enquanto a bolsa de apostas estava aberta ao povão, o cassino tinha apenas duas opções: povão ou elite; bandidos ou mocinhos, sulistas ou nordestinos; pobres ou ricos; corruptos tucanos ou corruptos petistas. Nos meios políticos e empresariais, o cassino é mais sofisticado e o leque de apostas abrange nomes dos mais cotados para ocupar o primeiro e segundo escalões do governo que renova o alvará em janeiro. Seja o vencedor homem ou mulher, de esquerda ou de direita, não importa. Importante é ganhar o poder. Como o violino, tomar com a esquerda e tocar com a direita.

Política é uma questão de matemática, e não de sorte e azar, explicam os profissionais. Para você sair ganhando nesse jogo, é preciso observar com atenção redobrada o que acontece ao derredor.

Bom exemplo, conta o político de quatro costados, é a história acontecida no Cassino Ahú. Num fim de noite, a madame saiu da roleta e atravessou o “grill room” com a banca dentro da bolsa.

– Como a senhora ganhou tanto dinheiro?

– Foi uma simples questão de matemática. O táxi que me trouxe era o número oito. O porteiro que me recebeu tinha um oito na lapela. O homem da portaria trocou minha capa pelo número oito. Três vezes oito é vinte e três. Joguei tudo no 23 e ganhei a noite toda. Uma questão de matemática!

Além de afiada observação, acrescenta a raposa política, para sair ganhando no jogo do poder é preciso conhecer pelo menos uma fração dos mistérios dessa vida. Os mistérios do ocultismo, por exemplo, porque por trás de todo partido político tem uma ou mais almas ocultas.

Depois da noitada no Cassino Ahú, o jogador inveterado foi para  casa dormir. Quase adormecido, eis que um espírito entrou no quarto e deixou sua mensagem no travesseiro ao lado: era a falecida mãe que veio avisá-lo para apostar tudo, e depressa, no número 13.

Lépido, correu para o Cassino Ahú para apostar o pouco que tinha no bolso e quebrou a banca. Com a taça de champanhe na mão, voltou para casa para sonhar sonhos de milionário. Tentou dormir novamente e repetiu-se o recado do além: jogar no 13 direto e urgente!

Ele voltou para o cassino e perdeu até o último tostão. No dia seguinte, o jogador procurou um amigo espírita para explicar o fenômeno. Com sua autoridade nos mistérios da vida, discípulo de Alan Kardec elucidou a questão:

– O primeiro, meu filho, era espírito da luz, com certeza sua mãe. Queria ajudá-lo. O segundo também era.

– Como assim, se o segundo me deixou quebrado?

– Isso mesmo, meu filho: o segundo com certeza era o espírito da mãe do dono do cassino. Banqueiro também tem guia.

Com os cassinos a todo o vapor, nas eleições para presidente da República em 1945 houve dois candidatos: o Marechal Dutra e o Brigadeiro Eduardo Gomes. Assim como hoje, a nação se dividiu entre aqueles que votavam no Marechal porque ele era casado com dona Carmela Dutra (o bairro de Curitiba) e aqueles que votavam no Brigadeiro, porque era bonito e solteiro. Dutra tinha o apoio do PTB-PSB, de todos os crupiês, banqueiros do jogo do bicho e donos de cassino. Udenista, Eduardo Gomes era contrário a qualquer espécie de jogo. Inclusive ao jogo de cintura. Feitas as apostas, correu a roleta da democracia e venceu dona Carmela Dutra, que mandou o marido fechar todos os cassinos do Brasil.

Portanto, caro apostador, na sorte ou no azar vale o que está escrito: “Quer conhecer o vilão, dê-lhe na mão o bastão!”. Façam suas apostas, veremos o que a democracia nos reserva. O jogo recomeçou.