Rabada e dobradinha

(Diário de Roma)

Da boa e velha culinária curitibana trazida pelos imigrantes europeus, pouco nos resta. Inclusive da gastronomia italiana, hoje majoritária nos altos negócios da mesa. Além das delícias da bisavó, guardadas no baú das mais antigas confeitarias, resistem bravamente a “rabada” e a “dobradinha”. Dos esconderijos que ainda conservam estas raridades temos o Restaurante São Francisco (na Rua Francisco), onde toda terça-feira a “dobradinha” não falta e, na quinta-feira, a “rabada” vem à mesa em grande estilo. E para quem conhece os caminhos de São José dos Pinhais, a “rabada” do Costelão do Schapieski é outra instituição de quinta-feira.

Rabo e bucho, como se dizia no tempo na nona, muitos procuram e poucos encontram em Curitiba. Bem mais fácil encontrar na Itália, pratos típicos da velha cozinha romana que atendem pelo nome de “coda alla vaccinara” (“vaccinari” eram os açougueiros do bairro Regola que tratavam de aproveitar o boi de cabo a rabo) e “tripa alla romana” (dobradinha ao molho de tomate, sem o feijão branco). E para quem guarda saudades do “caracu”, aqui ele é uma celebridade chamada “ossobuco”. Nos restaurantes do Trastevere, o bairro boêmio e gastronômico de Roma, “rabada” e “dobradinha” fazem uma dupla de sucesso desde quando Cícero pregava inutilmente: “esse opertet ut vivas, non vivere ut edas” (Deve-se comer para viver em vez de viver para comer).