Em junho de 1940, a Alemanha mostrava suas unhas e a França estava prestes a cair. Os Estados Unidos se mantinham neutros e só a Inglaterra resistia. Enquanto isso, o primeiro-ministro Winston Churchill não conseguia dormir com os roncos de Hitler. Bebendo além da conta, o gordinho Winston perdia alguns quilos andando de um lado para outro, estressadíssimo. Depois das explosões de ira, assim se desculpava: “Sabe, posso parecer feroz, mas só sou feroz com um homem: Hitler!”.

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Clementine, esposa sincera e dedicada de Winston Churchill, preocupava-se com o marido. Naqueles tempos de cólera, era a única pessoa que nunca manifestava medo ou espanto diante do estadista. E isso ela deixou claro no fim de junho de 1940, quando escreveu uma carta amorosa e franca ao marido.

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“Meu querido – começou Clementine – espero que me perdoe por lhe contar algo que acho que deve saber. Um amigo devoto veio a mim e me disse que você corre o risco de ser antipatizado por todos os colegas e subordinados por suas maneiras cruamente sarcásticas e arrogantes. Parece que seus secretários particulares concordaram em agir como alunos, aceitar seja o que for e depois disso escapar de você com um dar de ombros. Mais ainda, se uma ideia é sugerida, já se espera o seu desdém e, daqui a pouco, nenhuma ideia, boa ou má, será apresentada. Fiquei perplexa e sentida porque nesses anos todos acostumei-me a vê-lo amado por aqueles que trabalham com você e para você. Quando mencionei isso, responderam que “sem dúvida são as pressões do trabalho”.

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Meu querido Winston: devo dizer que percebi uma piora em você; e você já não é tão bondoso quanto era. Cabe-lhe dar as ordens, e se elas não forem cumpridas – à exceção do rei, do arcebispo de Canterbury e do presidente da Câmara, você pode demitir qualquer um. Portanto, com esse poder terrível, você deve combinar doses de urbanidade, bondade e, se possível, de calma olímpica. Você costuma dizer: “Só com calma podemos reinar sobre as almas”. Não posso tolerar que aqueles que servem ao país e a você, não o amem, não o respeitem ou não o admirem. Além disso, você não conseguirá bons resultados com a irascibilidade e rudeza. Só vai provocar antipatia ou uma mentalidade escrava.

Por favor, perdoe sua amorosa, devotada e atenta Clemmie”.

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Em março de 2006, publiquei nesta coluna a carta de Clementine ao marido Winston, com o seguinte anexo:

“Querido Mário Celso Petraglia. As notícias que chegam do front do Clube Atlético Paranaense são desalentadoras. Nos contam que você anda estressado, decepcionado com as seguidas derrotas e os recentes desatinos cometidos em ousadas táticas de marketing. Colaboradores e atletas se mostram com mentalidade escrava. A imprensa busca notícias com uma lanterna na mão, tal a escuridão que reina na Arena da Baixada”.