Quem tem medo da Baronesa?

Atualmente em segredo de Justiça, a enorme caixa de papelão onde repousam a vida pregressa e as intimidades da cafetina Mirlei de Oliveira, a Baronesa do Sexo, é uma espécie de Caixa de Pandora – objeto da mitologia grega onde Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, guardava todos os males do mundo. Abrir uma Caixa de Pandora significa criar um mal que não pode ser desfeito. Faria o mesmo efeito a abertura da Caixa da Baronesa, cuja sombra paira sobre Curitiba, de Colombo ao Bigorrilho, da Cidade Industrial ao bairro chique do Batel. Assombrando principalmente os partidos políticos, provocando calafrios em peemedebeus, petebeus, peteus, peessedebeus, gregos e troianos.

Muitos suam frio no leito conjugal, embora se saiba que as várias “Agendas da Mile” (ou melhor: Anais da Mirlei) guardadas naquela Caixa de Pandora não são tão assustadoras quanto imaginam. Aterradoras são as fichas de consumo com anotações do movimento do dia-a-dia da extinta “Chácara da Mile”. Um fichário onde constam as performances sexuais de celebrados ex-craques de futebol, dirigentes esportivos, delegados de polícia (a foto de um dos mais respeitados deles, de sunga numa praia da Espanha, é bem reveladora) e explica porque a maioria dos clientes da Mirley era da “Geração Viagra”, “galãs de meia-idade” necessitados do fortificante, tal o consumo anotado nos anais da casa.    

O Anais da Mirlei não são os primeiros a amedrontar o bairro chique do Batel. Há precedentes, quando outra Caixa de Pandora abalou Curitiba. No início da década de 60, a polícia desbaratou uma gangue que agenciava garotas para exclusivos bacanais, todas “di menor”. Na gaveta do chefe da quadrilha, foi encontrada nitroglicerina pura. De A a Z, lá estavam quase todos os maiorais dos Três Poderes, com páginas exclusivas para os bacanas das colunas sociais.

A agenda da cafetinagem foi passada na íntegra para o jornal Última Hora, que, impresso em São Paulo, escancarou nas páginas a nominata completa dos bacanas dos bacanais. Parecia lista de vestibular. Alertados com antecedência de que o caminhão da Última Hora chegaria a Curitiba com a carga de dinamite, na madrugada os bacanas e seus capangas cercaram as bancas e compraram toda a edição, na vã esperança de que não sobrasse um único exemplar para contar a história.

Foi dinheiro jogado fora. Precavidos, os jornalistas da Última Hora de São Paulo, excepcionalmente, não enviaram apenas um caminhão. Enviaram dois, este último chegou bem mais tarde, abarrotado de jornal até a cabine. Para citar o Samba do Crioulo Doido, de Sérgio Porto, o bode que deu vou te contar!

 

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Essas e outras histórias, inclusive um capítulo especial sobre a Baronesa do Sexo, estão livro que acabei de escrever, “Maria Batalhão – Memórias Póstumas de uma Senhora Cafetina”, com lançamento previsto para o mês de maio próximo.