Quem te viu, que te vê!

O almofadinha

Come tripa de galinha

Vai dizer à namorada

Que comeu macarronada

(Quadrinha muito popular em 1924, para provocar os atleticanos)

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A cidade de Curitiba tem mais de 321 anos, no entanto a história do Clube Atlético Paranaense são outros quinhentos. Quem conta um ponto aumenta um ponto e hoje o velho Estádio Joaquim Américo dá um salto para o futuro. Um futuro jamais sonhado por um time que nasceu em 1924 com o estigma de ser o clube dos almofadinhas, das famílias tradicionais da capital, os donos do poder. “O pó-de-arroz da Baixada, que tem como símbolo o almofadinha de fraque, cartola e piteira, herdou a aristocracia característica do América e do Internacional, clubes constituídos por famílias da velha e decadente oligarquia” – ainda reverberam os adversários. 

Quem te viu, quem te vê! Nascido à beira do rio Água Verde, agora um esgoto que passa envergonhado sob uma sofisticada grama com o certificado da Fifa, na tarde de hoje o velho campo da Baixada não terá os seus 15 minutos de fama – como preconizava Andy Warhol -, vai ganhar, isto sim, os seus 90 minutos de celebridade mundial.

Contam-se muitas histórias sobre a origem do estádio construído no local onde existia uma Casa de Pólvora. Daí que todas essas histórias são explosivas, do velho caldeirão à novíssima Arena. Das versões de como surgiu um dos estádios mais bonitos e modernos do mundo, para consolo dos rivais é preciso dizer que o primeiro treino do pó-de-arroz foi no campo do Hospício da Avenida Marechal Floriano, contra a seleção de internos e externos. Dizem as más línguas que o juiz foi um ex-maluco chamado Napoleão, que então iniciava a carreira na Federação Paranaense de Futebol.

A bola na época era constituída de três peças: o ventil, a bexiga de borracha e o couro em gomos, costurado com linha de sisal. Como era couro-couro, não se jogava com a bola em calçadas e lugares ásperos, pois o couro gastava. Quando chovia, passava-se banha na bola para não apodrecer a corda de sisal. Quando o ventil se soltava do local, o furinho de couro, era-se obrigado a abrir toda a bola para recolocar no lugar.

Pois bem. Testemunhas oculares da história contam que no último minuto desse eletrizante “match” (como se dizia então) entre o Atlético Paranaense versus o combinado de internos e externos do hospício, que estava zero a zero, o tal juiz ex-maluco chamado Napoleão arrumou um pênalti para o Atlético. Quem chutou foi o centroavante Berne, dono de um canhão indefensável. Ele deu uma bicanca tão poderosa (a maior prova de humildade de um goleador é não ter pejo de humilhar o adversário com um miserável gol de bico da chuteira), que a bola estourou, separando a bexiga do couro. Como a bexiga passou por cima da trave e o couro entrou no gol, não deu outra: oficialmente, o juiz ex-maluco botou na súmula que o Atlético ganhou o jogo por meio a zero. Esse é o único caso de meia vitória que se tem conhecimento na história do futebol.

Dias antes da refundação do Clube Atlético Paranaense, quando Irã e Nigéria entram em campo para mudar o destino daquele humilde timinho da Água Verde (ou hidroesmeraldino, para os mais antigos), contam os ressentidos que o atual presidente atleticano procurou um psiquiatra. Deitou-se no divã e confessou:

– Doutor, estou tão nervoso que não sei por onde começar.

O psiquiatra respondeu:

– Comece pelo princípio:

– Bem no princípio eu criei o Céu e a Terra…

Apesar dos pesares, apesar das suspeitas, apesar dos atrasos, percalços e arrogâncias, parabéns à torcida atleticana e parabéns aos paranaenses. Temos um estádio para mostrar aos quatro cantos do mundo. Quem te viu, quem te vê! Neste 16 de junho de 2014, da Baixada à Pedreira Curitiba é show!