Quem perdemos

O Senhor escolheu um dia muito especial para Belmiro Valverde Jobim Castor nos deixar. Na tarde de 29 de março, aniversário de Curitiba e de Poty Lazzarotto. Foi nessa data para que nós mortais desmemoriados tenhamos uma referência especial para não esquecê-lo. Como se fosse possível esquecer o professor Belmiro, tamanha a falta que ele nos vai fazer.

Não fosse pela falta de palavras nestes momentos, dizer que Belmiro vai fazer falta é um lugar comum, o tal do óbvio ululante. Mas é isso mesmo, vai nos fazer muita falta. Na companhia dos amigos, no amparo aos desassistidos, na página do jornal e – como já escreveu o jornalista Celso Nascimento, vai nos fazer falta “sua inteligência desconcertante, seu humor refinado, a abrangência sideral de seus conhecimentos, sua firmeza de caráter, sua incrível capacidade para compreender o mundo e a alma humana”.

De Belo Horizonte, lamentou o jornalista Valério Fabris, ex-diretor da Gazeta Mercantil: “Inteligência e lucidez em tempo integral. E gentileza. Morei em nove cidades, entrevistei centenas de personalidades de diferentes perfis. Um dos brasileiros de maior visão, nas gerações do pós-guerra. Um imenso privilégio para o Paraná. Porque só o Paraná o conheceu bem. Só Paraná se beneficiou de seus pensamentos e de suas obras. Belmiro, Belmiro, Belmiro! Fica na gente uma tristeza de dimensões cósmicas”.

Belmiro Valverde Jobim Castor vai nos fazer falta ainda na cadeira 28 da Academia Paranaense de Letras, onde sua frequência contrastava com os tantos (e são tantos!) ausentes que em plena saúde só fazem de suas honrosas e históricas cadeiras um assento para o ego. Escritor, nos deixa sem o livro de memórias dos bastidores econômicos e administrativos do Paraná, com bastante pesar pelos causos do folclore político, agora pendurados na memória dos amigos.   

Perdemos o homem que militou em tantas frentes – secretário de Estado, administrador, professor, cronista, articulista, conferencista ilustradíssimo sem deixar de ser didático – e que se dedicava ultimamente, com especial afinco e generosidade, a assistir crianças e adolescentes na instituição João Paulo II, que criou junto com Elizabeth e que se sustenta com uma rede de apoio de pessoas de bem. Em momentos muito especiais, Belmiro adorava exercer o ofício de avô, muitas vezes virtual pela distância da netinha, que mora na Europa.

Belmiro, que conhecemos via Aroldo Murá, no tempo do extinto jornal “Voz do Paraná”, estava se preparando para ver o Papa canonizado. Justamente João Paulo II, que escolheu para nominar sua escola. Iriam para a mesma semana em Roma, a família de Belmiro mais o amigo fraterno Aroldo Murá.

Belmiro enxergava longe. E na frente. Foi antes. Na frente.

(Dante Mendonça, com a ajuda de dois parágrafos de Maí Nascimento Mendonça)