Quem paga o pato

Até ontem, muita gente acalentava o sonho de morrer em Paris. Hoje, tem gente procurando outros lugares para cair morto. É o caso do milionário Bernard Arnault, dono da grife Louis Vuitton, quem agora muitos franceses querem ver enterrado no cemitério de cães de Paris.

Homem mais rico de França, Bernard Arnault quer viver na Bélgica, depois de o governo socialista francês ter decidido aumentar os impostos para rendimentos superiores a um milhão de euros.Com a poderosa mordida, mais a criação de novos impostos, o presidente François Hollande pretende arrecadar 20 bilhões de euros para botar ordem na casa. 

Os críticos acusam o milionário que ergueu o império Louis Vuitton de querer fugir do leão. Bernard Arnault, no entanto, garante que não tem medo da fera. Já o presidente Hollande, minimizou o bote. “Cada um deve fazer a sua parte”.

Desde a Revolução Francesa a nobreza vêm fazendo a sua parte, que nunca foi pequena. Uns entraram com o próprio pescoço, outros com as pratarias, mas desde sempre quem de fato paga o “canard” (pato) é a classe média, os inocentes úteis da monarquia e da república.

Bem a propósito, recebi do confrade Carlos Antunes, ex-reitor da UFPr, o diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral “Le Diable Rouge”, de Antoine Rault:

Colbert: Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…

Mazarino: Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criando outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E sobre os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então, como faremos?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

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Desde o reinado de Luís XIVa história se repete, sempre com a classe média pagando o “canard” que vai à mesa dos bacanas.