Quem é o dono da rua?

Em entrevista a André Gonçalves, correspondente da Gazeta do Povo em Brasília, o prefeito Gustavo Fruet declarou que, mesmo com baixos índices de aprovação, mal situado nas pesquisas sobre a sucessão municipal, sente muito orgulho de administrar Curitiba e está feliz em ser prefeito: “Nunca consegui ter tanto equilíbrio e responsabilidade para saber absorver provocações de toda natureza. É uma honra, mas também tenho clareza: esse é o pior momento para estar no cargo”, disse o nosso prefeito.

Com dificuldades também em tirar do papel as obras a céu aberto, quanto mais nos subterrâneos para o metrô, Gustavo Fruet deveria partir do velho princípio de que quem não tem cão, caça com gato, ou dá asas à imaginação.

Imaginação é o que não está faltando para o Rio de Janeiro, que seguiu o conselho de Jaime Lerner: “A rua é muito cara para ser dedicada exclusivamente ao automóvel!”. Em vez de vagas de estacionamento, a prefeitura autoriza pequenas estruturas de madeira com mesas, cadeiras e plantas. Os “parklets”, como são conhecidos esses espaços, existem há um ano em São Paulo e agora foram regularizados no Rio de Janeiro, com o simpático nome de “Paradas Cariocas”.

Qualquer pessoa poderá apresentar uma proposta de construção, sendo que o responsável de cada espaço terá de arcar com os custos da obra e da manutenção. O projeto será avaliado e, se for aceito, terá concessão por um ano para servir para abrigar mesas de leitura e descanso, ponto de encontro para todas as idades, bicicletários, palcos para pequenos shows e demais ideias que vierem da população.
O “parklet” – que em Curitiba poderia ser chamado de “sala de estar”, não seria a extensão comercial de um bar. No Rio de Janeiro o proprietário poderá pedir para instalar mesas em frente ao seu estabelecimento, mas não terá direito de comercializar nada ali. No nosso caso seria uma questão a estudar, por que não?

Numa cidade onde a população foi trancafiada em modernas senzalas (também chamadas de shoppings ou condomínios) pelos bandidos, a custo zero a prefeitura precisa induzir o pedestre a reocupar o seu espaço urbano sob este céu que nos protege. Afinal, quem é o dono da rua? Trocar a vaga de um carro por espaço de uso criativo favorece o convívio urbano e não requer verbas estaduais ou federais. Basta um tanto de imaginação, outro tanto de tolerância – virtude muito em falta por esses dias tão estranhos.