José de Camargo Barros (1858/1906) foi o primeiro bispo de Curitiba, designado pelo Papa Leão XIII no dia 16 de janeiro de 1894, aos 35 anos. Paulista de Indaiatuba, o grande orador, literato e jornalista teve uma morte trágica aos 48 anos, quando o navio que o trazia de Roma foi a pique próximo ao cabo de Palos, na Espanha. Seu corpo nunca foi encontrado, assim como outros prelados que estavam retornando de uma visita “ad limina” ao Papa Pio X. 

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Como se não bastasse um desfecho assim tão brusco, por esses desígnios do destino sua biografia pode ser acrescida de um último parágrafo constrangedor para a cidade onde organizou a nova diocese, criando paróquias, capelas e escolas. Triste sina, 119 anos depois do naufrágio a Rua Bispo Dom José pode ser conhecida como a “Rua do Granito”.

Em algum paraíso abissal, Bispo Dom José deve estar comentando com o ex-deputado Ulysses Guimarães, também desaparecido no mar, o que está sendo feito com sua rua:

 – Um pecado, Ulysses! Antes um beco sem saída no Caminho do Mato Grosso, hoje é uma via dedicada a luxúria e ostentação. Minha diocese tem problemas com as calçadas desde sempre, mas não precisavam exagerar. Imagina que no primeiro dia que saí do Largo da Matriz para conhecer a cidade, levei um tropicão no passeio da Rua do Fogo (atual São Francisco) que me deixou uma semana sem rezar missa.

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Com mais um gole num cálice de “poire”, o guia da redemocratização falou e disse:

– De fato, esbanjar o dinheiro público com calçadas de granito é concordar com a minha velha teoria: enquanto houver cachaça, samba, carnaval, mulata e futebol, não haverá rebelião no Brasil. O Corinthians segura mais o povo do que a Lei de Segurança Nacional.

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– Com a verba sacramentada e o granito enterrado na rua, o que fazer Dr. Ulysses?

– A coragem é a primeira virtude do estadista. Agora a pedreira está nas mãos do filho do meu amigo Maurício Fruet. Compete ao prefeito indicar o remédio.

– No meu tempo de bispo em Curitiba esses pecados eram resolvidos na Rua da Cadeia, simplesmente atravessando o Largo do Matriz, onde hoje é o Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques.

– Mas como sempre, antes iam se queixar ao bispo. Por falar nisso, quanto será gasto no Batel, reverendo?

– Para a Avenida Batel estão reservados cerca de R$ 3,5 milhões, financiados pelo governo estadual por meio do Fundo de Desenvolvimento Urbano.

– Enquanto isso, reverendíssimo, no meu carente município de Doutor Ulysses, na região metropolitana de Curitiba, o povo não tem granito nem para o próprio túmulo. Vou me queixar ao bispo!