Na semana passada, setenta e quatro pessoas morreram e mais de cem ficaram feridos durante uma partida de futebol no Egito. Entre mortos e feridos, não chegou nem perto da tragédia ocorrida em 1964, numa partida de futebol entre Peru e Argentina. No quebra-quebra generalizado, milhares de pessoas correram para as saídas e acabaram esmagadas no meio da multidão. Resultado: 318 mortos e mais de 500 feridos. A segunda maior tragédia em campo foi também na África, em 2001. No confronto entre os torcedores e a polícia, o saldo foi de 126 mortos e 90 feridos.

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A quarta maior pauleira futebolística aconteceu em Balneário Camboriú, em janeiro de 2004, quando uma nervosa galera parou para assistir ao maior clássico dos mares do sul. De um lado, a seleção brasileira local, com a gloriosa camisa amarela pentacampeã do Brasil. Do outro lado os turistas portenhos, envergando a temida azul-celeste argentina. Em torno do campo de areia, a torcida se dividia: em menor número, os gringos se empanturravam de milho verde e churros. Majoritária, a brasileirada fazia fila para a caipirinha dos quiosques. Mediando a porfia, um corajoso e invocado baixinho de Mato Grosso. E rolou a pelota.  

O primeiro lance do ataque brasileiro ocorreu logo aos primeiros três minutos, quando um galego de Blumenau disparou carregando a bola na primeira onda, passou um chapéu num adversário e rolou para um polaco de Ponta Grossa cabecear, raspando a bola no travessão. Aos onze minutos, resposta da Argentina: depois de receber um preciso passe, um atacante chamado Torrado obrigou o goleiro de Maringá praticar uma corajosa defesa. A torcida argentina foi ao delírio. Na sequência, o juiz baixinho de Mato Grosso deu um cartão amarelo para o infeliz Torrado, por “juego muy perigoloso”.

Os brasileiros abriram o placar aos vinte do primeiro tempo. No segundo tempo, os brasileiros recuaram o time, sentindo a reação inimiga. Pressão total, quando aos dezoito do segundo tempo saiu o gol de empate. Faltando meio minuto para o final da porfia, escanteio para o Brasil. Confusão na área. Sua Excelência o árbitro baixinho de Mato Grosso trila o apito. Pênalti para o Brasil!

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Por supuesto, o sucedido después yo no tengo palavras para narrar. Os portenhos partiram pra cima do baixinho de Mato Grosso, com cocos verdes nas mãos. Entre os brasileiros, um carnaval fora de época. E era só sabugo de milho que voava e argentino que chorava.

Horas depois, ainda escondido no interior de um hotel, o juiz baixinho de Mato Grosso desabafou:

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– Empatar com os gringos, aqui na nossa praia, nunca! Nem sobre o meu cadáver!