Quase meia-noite

Era quase meia-noite em Paris quando saímos de uma das salas de cinema do UGC Danton. Embevecidos, botamos o pé no Boulevard Saint-Germain onde tínhamos acabado de assistir a um filme dentro do filme. Ou seja, tínhamos acabado de assistir “Meia-noite em Paris” (“Minuit à Paris”) numa das poltronas do cinema cuja fachada aparecia numa das belíssimas cenas parisienses de Woody Allen.

Mais adiante do número 99 da Boulevard Saint-Germain (ao lado ficam o Café Danton e o bistrô Comptoir, atualmente um dos restaurantes preferidos de Luiz Fernando Veríssimo) paramos em frente ao lendário Café Les Deux Magots, com a sensação de que exatamente à meia-noite um carro dos anos 20, a “golden age”, nos apanharia para uma festa de arromba na casa de Gertrude Stein, na companhia de Picasso, Salvador Dali, Luiz Buñuel, Hemingway, Scott Fitzgerald e, talvez com um pouquinho mas de sorte, até com a presença de Santos Dumont. 

Ficção ou realidade? Atualmente é o que também se pergunta o publicitário Cláudio Loureiro, o curitibano que continua à frente das tratativas que convenceu Woody Allen a fazer com o Rio de Janeiro o mesmo que fez com Paris, redescobrindo uma paisagem que todos já sabem uma beleza de cenário.

Principalmente no cinema a esperança é a última que morre, nos contou Cláudio Loureiro pelo correio eletrônico:

“Que belo filme, não? Além de tudo, a ideia de que as pessoas excessivamente nostálgicas estão insatisfeitas com o presente é muito boa. E a piada, de que na “golden age” não havia nem zitromax nem anestesia pra dentista, é mortal… De qualquer maneira, minha história com eles (a produção de Woody Allen) está na mesma: estive lá em maio e enquanto pintarem essas propostas de cidades como Paris, Londres e Roma (cujas filmagens iniciam ainda este mês), a gente vai ficando pra trás da fila. Mas a esperança continua. De bom mesmo, é que meus filhos acompanharam as filmagens em Paris e foram convidados a assistir em Roma”.

Como depois da meia-noite o Boulevard Saint-Germain perde muito de sua festa, no dia seguinte consegui acordar cedo para pintar uma aquarela da “Pont Neuf”. E, tal qual no filme de Woody Allen, fiz de conta que ao meu lado estavam Picasso e Matisse trocando figurinhas roubadas um do outro.