No tempo dos Gonçalves – da Dercy e do Nelson Gonçalves -, quando a qualidade da televisão brasileira dependia do Bombril na antena, as emissoras de televisão de Curitiba se chamavam simplesmente de Canal 6, Canal 4, Canal 12 e o Chacrinha do Paraná tinha o nome de Mário Vendramel.  

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Quem chegou a ter uma conta no Bamerindus, comprou tevê nas lojas HM, sofá na Tarobá, tapete no Pedroso, cadeira da fábrica Cimo, geladeira do Prosdócimo, há de se lembrar do apresentador que dava um pouco de vida às tardes sonolentas de sábado, especialmente aos que chegavam em casa ainda ruminando a feijoada do Onha. 

Tirando o bigode, Ratinho e Vendramel tinham tudo em comum. Inclusive na origem, pois os dois vieram do interior do Paraná. Ratinho foi a bola da vez, mas se não fosse por um acidente de percurso, Mário Vendramel – talvez, quem sabe? – poderia ter sido o ungido do mercado para atender os emergentes da classe C no Plano Real. Procurado por uma emissora paulista para comandar um programa em rede nacional, o nosso Chacrinha foi a São Paulo para acertar o contrato. Na volta, um acidente na BR-116 o deixou fora do ar e dos planos de fortuna.  

Naqueles estertores da ditadura, Chico Caruso no jornal O Globo e eu no O Estado do Paraná éramos os únicos cartunistas do Brasil a publicar charges coloridas na primeira página. Sendo o único caricaturista atuando na imprensa diária, fui levado ao programa de Mário Vendramel, no Canal 4, para representar uma equipe de gincana que tinha a tarefa de fazer a caricatura de um dos jurados durante o transcorrer das apresentações de calouros. Como a outra equipe da gincana não conseguiu levar nenhum outro caricaturista, a produção do programa me pediu para fazer tudo em dobro, fora do ar, disfarçando apenas o traço e assinando o replicado com um nome qualquer.

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Os jurados do Mário Vendramel não eram lá essas coisas. Bem melhores eram as Vendrametes rebolando no palco. Mesmo a contragosto, dito e feito, desenhei o então radialista Mário Celso Cunha – agora secretário Especial para Assuntos da Copa do Mundo no Paraná – de um jeito e de outro, do direito e do avesso. Num papel Canson assinei assim e no outro assinei assado. As duas caricaturas foram às mãos dos jurados, cada um lançando sua nota sobre os dois trabalhos.

Sete para mim e sete para o outro; oito pra mim e oito e meio para o outro; seis pra mim e nove para o outro; até que noves fora, depois de muito bate-boca, os senhores jurados do Programa Mário Vendramel chegaram ao veredicto final: eu perdi para mim mesmo!

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Depois disso, certas derrotas me fortalecem. Sei o que é perder para si mesmo.