Bem antes de “Los 3 Inimigos”, de Tiago Recchia, Curitiba se divertia com “Los 3 Amigos” da crônica esportiva: Vinícius Coelho, Carneiro Neto e o lendário João de Pasquale.   

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Dono do restaurante “Lá No Pasquale” (no coração do Passeio Público e da cidade), comentarista esportivo e atleticano, João de Pasquale morreu pela última vez em outubro de 2010, aos 81 anos. Das mortes anteriores, perdeu-se a conta. Sabe-se que ele falecia toda vez que o Atlético perdia, mas a maior das mortes começou no ano 2000, quando o médico chamou dona Isaura no consultório:

– O Pasquale está com câncer. Não sabemos quanto tempo lhe resta. Pode ser hoje, amanhã ou depois. 

– Jesus!

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– Agora a decisão de contar a ele é da senhora.

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Junto com as chapas de raio-x, dona Isaura viu passar um trecho do filme da vida do João, narrado por Carneiro Neto: “Com Elba de Pádua Lima, o lendário técnico Tim, houve passagens homéricas, como na noite em que discutiam táticas de futebol. Afastaram os copos e começaram a expor os seus conceitos à plateia. Tim pediu para Jonas, mordomo impagável, levar onze empadinhas para armar o seu esquema e Pasquale pediu onze quibes para contra-atacar. O resto da galera ficou de pé, em torno da mesa, acompanhando as manobras daquele verdadeiro xadrez futebolístico. Depois de meia hora de evoluções estratégicas, Pasquale piscou para o deputado Luizito Malucelli e falou baixinho: O Tim ainda não notou, mas faz dez minutos que o Carraro (Maurino Carraro, cartorário) comeu o ponta esquerda dele…”.

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Dona Isaura voltou

à pergunta do médico:

– A senhora vai contar ao Pasquale?

– Não sei, doutor! Vou me reunir com os amigos do João para saber a opinião da maioria: contamos ou não contamos?

Com o jornalista Vinícius Coelho à frente, foi marcado um jantar em campo neutro para as devidas libações e deliberações, onde ficou decidido que dona Isaura nada deveria relatar ao paciente. “Exames de rotina”, diria o doutor. “Não vamos deixar que a vida por um fio apague o bom humor do nosso querido amigo”, disse Carneiro Neto. “Que ele saiba aos 48 do segundo tempo”, foi a decisão da crônica esportiva.

Passados os últimos cinco anos de cama, dos dez sem saber do diagnóstico equivocado, o João de Pasquale das tantas mortes acabou morrendo pela última vez bem depois da primeira morte do amigo Vinícius Coelho.

Como se sabe, Vinícius Coelho morreu duas vezes. Faleceu por último na quarta-feira passada, no dia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira do Santuário do Alto da Glória. Mas já estava sem vida desde outubro de 2007, quando assassinaram o filho Bruno Strobel Coelho Santos.