Quando o eleitor não volta

Os partidos políticos tratam os eleitores como se estes fossem clientes de uma loja de bugigangas na qual, de quatro em quatro anos, são obrigados por lei a comprar o que eles oferecem, sem discutir o preço e a qualidade do produto. Consumidores compulsórios sem o direito de reclamar do atendimento.

Fundador da Wal-Mart, maior rede varejista do mundo, Sam Walton (1918/1992) sempre lavava o próprio prato após as refeições e sua filosofia dizia que não há preço baixo na loja sem custo na empresa. Por isso, é preciso economizar cada centavo.Numa de suas costumeiras reuniões com funcionários ele fez um discurso que ficou para história dos negócios. A moral da história, ou do discurso de Walton, é que “os clientes podem demitir todos de uma empresa, do alto executivo para baixo, simplesmente gastando seu dinheiro em algum outro lugar”.

Sempre lembrada pelos publicitários, a lição de casa do fundador da Wal-Mart:

“Eu sou o homem que vai a um restaurante, senta-se à mesa e pacientemente espera, enquanto o garçom faz tudo, menos o meu pedido; eu sou o homem que vai a uma loja e espera calado, enquanto os vendedores terminam de conversar; eu sou o homem que entra num posto de gasolina e nunca toca a buzina, mas espera pacientemente que o empregado termine a leitura do seu jornal; eu sou o homem que, quando entra numa loja, parece estar pedindo um favor, ansiando por um sorriso ou esperando apenas ser notado; eu sou o homem que entra num banco e aguarda tranquilamente que os caixas terminem de conversar entre eles; eu sou o homem que explica sua necessidade de uma peça, mas não reclama pacientemente enquanto os funcionários simplesmente abaixam a cabeça e fingem não me ver. Você deve estar pensando que sou uma pessoa quieta, paciente, do tipo que nunca cria problemas. Engana-se.
Sabe quem eu sou? Eu sou o cliente que nunca mais volta!”.

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Tratados pelos marqueteiros como se fôssemos otários, obrigados por lei a engolir o que nos oferecem, devíamos repassar aos candidatos a presidente a seguinte versão do discurso de Sam Walton:

“Eu sou o homem que chega em casa, senta-se no sofá e pacientemente lê no jornal que os partidos políticos não fazem outra coisa a não ser articular benesses, discutir alianças e tramar negociatas; eu sou o homem que assiste a televisão calado, enquanto a reportagem denuncia novos escândalos de corrupção; eu sou o homem que, quando num hospital público, parece estar pedindo um favor, ansiando por um sorriso ou esperando apenas ser notado; eu sou o homem estressado por falta de segurança na minha cidade, mas que não reclama pacientemente enquanto os responsáveis simplesmente abaixam a cabeça e fingem não me ver.
Você deve estar pensando que sou uma pessoa quieta, paciente, do tipo que nunca cria problemas. Engana-se. Sabe quem eu sou? Eu sou o eleitor que nunca mais volta!”.