-Meus sais! Meus sais! – à beira de um desmaio, Madame Champagnat foi socorrida pelo mordomo quando soube que os serviçais da casa não viriam trabalhar por causa da greve dos motoristas e cobradores!

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– E como você veio trabalhar, sem os choferes e condutores? – preguntou a Madame, bem nervosa, batendo os cílios descontroladamente.

– É uma greve esperada, senhora. Como todo mundo já sabia que o impasse político entre o governador e o prefeito não seria resolvido numa tarde de domingo, ontem dormi no quartinho da garagem para não faltar ao trabalho.

Madame Champagnat sentou-se à mesa para o café da manhã muito bem posto pelo seu mordomo e faz-tudo.

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– O que seria dessa casa se não fosse você, Macedinho! É o que o meu finado marido sempre dizia: o maior equívoco da história do Brasil foi acabar o regime de escravidão. O regime de CLT só atrasa o progresso da nação. Nos tempos das senzalas, os serviçais tinham casa, roupa lavada e comida de graça, sem depender de condução para trabalhar!
Macedinho é apelido. O nome verdadeiro do mordomo de Madame Champagnat é Neri Constâncio da Silva. Mas sua aparência é tão peculiar que a Madame não pode olhar para ele sem deixar de lembrar uma antiga maledicência entre as famílias tradicionais da cidade.

Dizem que no retorno de sua única viagem para a Europa, aos 18 anos, perguntaram ao escritor Dalton Trevisan o que ele tinha achado da Suíça:

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– Aquilo parecia um piquenique de Macedos nos Alpes. Só tinha gente esquisita!

Peculiar porém eficiente, Macedinho teve que fazer das tripas coração para atender os requisitos da casa, enquanto Madame Champagnat destilava no Facebook todo o veneno de sua língua ferina. Com o seu pseudônimo de seus tempos de jovem poeta: “Ananás”. Ontem, por exemplo, foi este comentário da Ananás: “Curitiba e Região Metropolitana não devem sofrer com falta d’água. E se for preciso, o volume morto do Centro Cívico resolve”.
– Macedinho! Atenda ao telefone, Macedinho!

– Pois não, Madame!

– Quem é, Macedinho?

– Querem falar com o seu motorista! Ele também não veio trabalhar!

– Deve ser o mecânico com mais uma enrolação! Veja você, Macedinho.

– É da oficina de injeção eletrônica. O mecânico está dizendo que o problema do seu carro não é com ele. Deve ser algum problema no motor!

– Um diz que é isso, outro diz que é aquilo e eu agora sem carro. Condenada às calçadas da Saldanha Marinho. Só o que me faltava é andar de Ligeirinho.

– Não seria melhor levar o carro numa concessionária?

– O problema desse país é o jogo de empurra. Um mecânico joga pro outro mecânico; a Dilma faz de conta de que a roubalheira da Petrobrás não é com ela nem com a lambisgoia da Graça Foster; o PT empurra com a barriga; o Delegado Francischini empurra para o jornalista Celso Nascimento; o Beto Richa diz que o problema é na rebimboca da parafuseta; enquanto o Guga Fruet diz que o buraco é mais embaixo, é na parafuseta da rebimboca; e nesse empurra-empurra com o TRT, o sindicato vai empurrar qualquer prejuízo para os motoristas e cobradores.

– Por falar nisso, Madame, o que faremos com chá beneficente desta tarde? Posso telefonar para as convidadas cancelando o evento?

– Pela ordem, liga para a dona Arlete Richa e dona Ivete Fruet.

– O que eu digo, Madame?

– Diga que se fosse eu a mãe, daria uma surra de cinta nos dois meninos!