O calor era senegalesco, o clima do Piauí, quando o Cristo de Guaratuba desceu à terra para se refrescar. Acredite se quiser no milagre sucedido.

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Era pleno meio-dia, os termômetros do litoral marcavam uma temperatura que nenhum Cristo suportaria. O Cristo de Guaratuba, também filho de Deus, não suportou tamanha canícula. Baixou um dos braços e, com o outro, enxugou o suor que lhe encharcava a testa. Deu um primeiro passo, outra pernada em direção à escadaria do morro e assim cauteloso para não escorregar, o Salvador desceu à praia. Afundou os pés na água do mar, naquele mesmo mar que estava cansado de admirar do alto, com os olhos no horizonte, noite e dia, inverno ou verão, fizesse sol ou chovesse a cântaros.

– Ai, meu pé! – gritou o Redentor.
Com água pelo joelho, Cristo voltou correndo para a areia com um ardume terrível que lhe queimava o pé esquerdo. Uma velha senhora que passava veio em socorro:

– Calma, meu filho, que vou ajudar!

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A idosa examinou o pé do Nazareno: era uma água-viva. Uma das milhares que, não se sabe se por natureza ou devoção, beijou os pés do Todo-Poderoso de Guaratuba.

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Só nesse verão, em apenas um dia, 185 casos de queimadura por águas-vivas no Litoral do Paraná. Se uma água-viva grudar na pele, não tente retirá-la. Isso pode queimar também as mãos. Utilize luvas ou pinça para remover o animal. Não utilize água doce para lavar o local (use água do mar), remédios caseiros, nem gelo, pasta de dente, óleo, pomada ou urina na queimadura porque poderá infeccionar. Se sentir dor de cabeça e enjôo, é sinal de intoxicação. A queimadura não deve ser exposta ao sol.

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Dor assim Jesus só havia sofrido quando da crucificação. Mas ele é poderoso, não precisou de maiores cuidados e seguiu em frente, com os pés descalços a espargir água do mar, o que lhe causava uma sensação pecaminosa a lhe subir pelo corpo.

Um pouco mais adiante, o Cristo de Guaratuba ficou encantado vendo alguns abençoados meninos jogando futebol. Quando a bola veio em sua direção, Ele posicionou o corpo um pouco de lado e -pimba na gorduchinha! – com o pé direito fez o goleiro agradecer a bola devolvida. -Oh! Meu Pai! – murmurou o Messias, olhando para o céu -Devolver uma bola com um chute certeiro é um prazer celestial.

– Tio, não entre nessa água! -gritou uma bela menina de fio dental, quando o Cristo estava prestes a tomar um banho de mar, com as ondas já lhe molhando as vestes.

– Por que, minha filha? Se Moisés enfrentou as águas do Mar Vermelho, não seria Eu capaz de mergulhar neste mar de Guaratuba?

– Tio, o senhor não sabia que cinco são os pontos impróprios para banho aqui na praia central? E o senhor está exatamente em um deles, junto ao Morro do Cristo.

– Filha, onde eu poderia então nadar em águas límpidas?

– Tio, pra achar uma praia limpa, só mesmo por milagre.

– Nem mesmo na Ilha do Mel?

– Lá também existem vários pontos impróprios para banho.

– Então, mesmo assim, Eu vou visitar aquele que já foi um paraíso!

– Impossível, tio! As filas e os engarrafamentos de automóveis são tão grandes, mas tão grandes, que o senhor levaria uma eternidade para chegar na Encantadas. Isso sem contar que a lotação da ilha está esgotada.

– Doce criatura, onde poderia então encontrar água, que minha sede é tanta?

– Pelo jeito o senhor é turista novo por aqui. Água só no mercado, onde também tem uma fila enorme; e não se arrisque a beber água da torneira, tio!

– Muito obrigado, filha. Não devo dizer, mas dessa água não beberei!

Irmãos, em verdade, vos digo: o Cristo do morro de Guaratuba desceu à praia, perdoou a nós pecadores e tão cedo não deve voltar, segundo declarou a um veranista:

– O Cristo de Guaratuba não sou eu. É o coitado do povo!