Ontem como hoje, as duplas caipiras despertam paixões e, mesmo não cantando tango, evocam tragédias. Dizia Carlos Gardel, não basta ter a voz para cantar um tango – “Hay que sentirlo, además” – É preciso viver conforme o seu espírito. É o caso dos irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Os sertanejos do asfalto levaram ao palco um drama que não deveria sair dos bastidores. Como resultado, a dupla criou uma nova expressão para as consequências de uma bebedeira: “Queda acentuada de potássio”.
Tragos e tragédias são antigas sinas de duplas sertanejas. Rick e Renner, com 25 anos de estrada, anunciaram a separação por motivos “puramente profissionais”. Com um dos parceiros “despedido de seu próprio nome”, a dupla Hugo Pena e Gabriel arrumou um novo Hugo. Depois de um acidente de automóvel, Bruno e Marrone foram separados por estresse pós-traumático. E os irmãos Edson e Hudson se estranharam por conta do alcoolismo de Edson.
Em Curitiba, ontem como hoje, dramas e tragédias sertanejas comovem a cidade. Em 1957, Oswaldinho e Vieirinha eram donos de uma metade do coração curitibano. A outra pertencia a Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Belos, jovens e afortunados, Oswaldinho e Vierinha apresentavam na Rádio Clube Paranaense, a Bedois, os programas “Galpão do Violeiro” e “Enquanto o mate corre”.
Naqueles tempos modestos, os sertanejos não compravam helicópteros. No auge da fama, Oswaldinho e Vierinha compraram uma motocicleta e, em alta velocidade, bateram contra a carroceria de um caminhão. Oswaldinho morreu na hora. Vieirinha foi levado ainda com vida para o hospital da Cruz Vermelha.
Com o coração na mão, Curitiba parou para ouvir tocar no rádio os maiores sucessos da dupla. Naquele morre, não morre (na época ainda não havia UTI), centenas de pessoas se aglomeravam na porta do hospital para se certificar dos boatos. Foram dois dias de choro, orações e muitas velas para Nossa Senhora dos Milagres.
No terceiro dia de vigília, Vieirinha se foi para não mais voltar. E a Lua, a iluminar a multidão que aguardava o milagre, também foi embora.