Na atual guerra entre as revistas Veja (Roberto Civita) e Carta Capital (Mino Carta), seria muito mais emocionante se os adversários partissem para a ignorância em algum endereço bacana da Avenida Paulista. Assim como se fazia em Curitiba no século passado, quando as diferenças entre os jornalistas eram resolvidas entre tapas e beijos.

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Primeiro os beijos, depois os tapas, foi como começou um entrevero entre os jornais Diário do Paraná e O Estado do Paraná no final da década de 1970. Casa de bacanas, naquela noite a boate 1810 recebia jornalistas de O Estado do Paraná, tendo à frente o celebrado colunista Carlos Jung. Jovem e bonito, casado com uma das garotas mais belas do Paraná, o cronista social nem bem havia sido servido do bom e do melhor quando adentraram à boate dois poderosos do concorrente Diário do Paraná,

Assim que viu Carlos Jung rodeado das joias da casa, o poderoso em “adiantado estado de embriaguez”, começou a provocar o jornalista mais invejado da cidade: “Viadinho! Carlos Jung é um viadinho!”.

Liderados pelo coleguinha Ducastel Nicz, a princípio os companheiros do colunista relevaram as seguidas provocações do poderoso que mal se equilibrava no balcão: “Senta aqui no meu colo, viadinho!”.

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No quinto “viadinho”, Ducastel Nicz num só murro fez o provocador beijar o chão. E assim, como nos filmes de John Wayne, a apertada casa noturna virou um ringue de luta livre. Em meio aos tabefes, alguém conseguiu telefonar para Adherbal Stresser, o todo poderoso proprietário do Diário do Paraná: “Estamos sendo massacrados pelos canalhas de O Estado do Paraná”.   

Quase três horas da manhã, Adherbal Stresser acordou o governador Paulo Pimentel, também dono do jornal O Estado do Paraná e Tribuna: “Governador, os meus rapazes estão sendo covardemente atacados pelos funcionários do seu jornal!”.

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Em minutos a redação dos dois jornais já sabia do que acontecia na Marechal Deodoro. Não longe, na Rua José Loureiro, uma pequena expedição de redatores do Diário do Paraná partiu em defesa dos dois companheiros em apuros. E da Avenida Barão do Rio Branco, de onde os redatores de O Estado já haviam se recolhido às libações do Bar Palácio, partiram os ferozes expedicionários das rotativas.

O confronto entre o Diário do Paraná e O Estado do Paraná foi uma versão urbana da Batalha de Itararé, aquela que não houve. Quando as duas falanges se encontram na porta da boate, o regimento do Diário bateu em retirada ao ver as armas dos adversários: comandados pelo festivo Barriga, fundador do Baile das Bem Boladas, os linotipistas da Barão do Rio Branco vinham armados das temidas “tainhas”, barras de chumbo da linotipo que mais pareciam espadas.

Naquela madrugada os jornais rodaram no horário; Carlos Jung foi se recompor no Bar Palácio sob a guarda do Barriga; e o provocador de olho roxo voltou para casa numa Mercedes branca.