Numa manhã de segunda-feira, dois assaltantes entraram numa panificadora da Água Verde e, não só renderam os funcionários, como também assumiram o balcão e passaram a atender os clientes. O plano dos dois era esperar a chegada do dono da panificadora, que morava no mesmo prédio, para invadir a residência e roubar dinheiro e outros pertences. Enquanto isso, um deles vestiu o jaleco branco do funcionário e foi para o balcão vender pães. Ficou fingindo ser vendedor durante quase uma hora. Testemunhas disseram que ele agiu normalmente, inclusive dando troco aos clientes.

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Dizem que história se repete como farsa. E também como comédia, podemos acrescentar, para recordar um famoso episódio acontecido com o músico Fernando Loko, que era uma vez tinha um bar em Curitiba chamado Bar Sem Nome. Ou Bar Sem Portas, porque simplesmente não tinha portas. Não fechava nunca, portanto, e tinha uma sala nos fundos onde um caixão de defunto fazia as vezes de mesa da diretoria.

Certa tarde, Fernandinho Loko se encontrava solitário no boteco quando foi assaltado por dois elementos, um deles armado.

– Simpatia, passa a grana!

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Porque fazia parte de sua natural simpatia, Fernandinho abriu um sorriso e, com seu jeito malandro, convidou os recém-chegados para um drinque no meio da tarde.

– Camaradagem, sou da paz. Faço questão de oferecer um trago, antes de qualquer coisa. Até porque o caixa está vazio e vamos ter que negociar.

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Os meliantes se entreolharam e, surpreendidos com a inesperada receptividade, aceitaram o armistício etílico. E na segunda rodada de tragos, Fernando Loko fez a proposta ainda mais surpreendente:

– A camaradagem faria a gentileza de tomar conta do balcão por uns breves momentos, enquanto vou no mercado comprar gelo e carvão?

Fernandinho passou o comando do estabelecimento aos rapazes e foi buscar o necessário. Retornou com os assaltantes em pleno exercício de suas novas atribuições, já servindo a freguesia, como se fossem dois novos e empenhados funcionários.

Depois de uma noite de tragos e trabalhos no Bar Sem Nome, os dois elementos recuperados à sociedade por Fernandinho Loko foram presos por vadiagem no centro da cidade.

O Bar Sem Nome há muito não existe mais na Avenida João Gualberto e o Fernandinho anda sumido da noite. No samba, continua sendo, pois da cadência do samba não se esquece jamais. Se hoje não carrega mais o bumbo que o iniciou como um dos maiores percussionistas brasileiros, leva consigo a autoria da frase que caracteriza a mais famosa  rua da boemia curitibana:

– Todo mundo tem a sua cruz. A minha é a Cruz Machado.