Protocolos da visitação

Curitiba era conhecida como Cidade Sorriso, um epíteto cunhado pelo poeta, jornalista e caricaturista sergipano Hermes Fontes. Mas como muitos achavam que o sorriso não combinava com a feição dos moradores, até hoje tentam corrigir a natureza da cidade.

Vem daí o lugar-comum de que o curitibano não cumprimenta ninguém, nem mesmo o vizinho. No máximo com um oi, um olá. O sonoro tudo bem? só mesmo se o vizinho estiver na porta da cadeia. São muitos os clichês usados para estampar o “homo curitibanus”. Na maioria genéricos, serviriam também aos parisienses, londrinos, cariocas, paulistanos e aos belo-horizontinos. Como estes chavões, contando que curitibano convida todos para uma visitinha – “Passa lá em casa!” – mas nunca fornece o endereço.
Para desmontar a tese de que só o curitibano não gosta de receber visitas, o cronista político Carlos Castello Branco contava que, por ter nascido no Piauí, ao longo de quatro décadas em Belo Horizonte precisou enfrentar a esquivança e a ironia daqueles que o recebiam com benevolência, mas com certa reserva: “Não é fácil ser mineiro e mais difícil ainda é obter o consentimento de Minas para que sejamos mineiros”.

Na biografia escrita pelo jornalista Carlos Marchi – “Todo aquele imenso mar de liberdade” – Castelinho confessa sua maior mágoa: “Vivendo em Belo Horizonte dos 16 aos 24 anos e meio – talvez quem sabe pela minha excessiva devoção trabalho – não tive oportunidade de entrar numa casa de família mineira. Lembro-me de que, nas minhas caminhadas, certo fim de tarde passei pela casa do que se tornaria o meu mais querido amigo Otto Lara Resende. Era na ruas das Alagoas. Do alto da sua janela e eu na rua, conversamos e não acudiu ao Otto que com um gesto me faria transpor a porta e ingressar na sua casa”.

Curitiba e Belo Horizonte se parecem? Nem tanto. Aqui a visitação requer certos protocolos: para receber visitas o curitibano costuma marcar com antecedência mínima de três dias. Se for urgente, dois dias. Em contrapartida, não se preocupe: sob hipótese alguma ele vai lhe tirar do sofá numa tarde de domingo, no meio de uma partida de futebol, para uma visita surpresa. Para visitar alguém, mesmo o amigo do peito, a regra é curitibaníssima: combine antes!