(Diário de Roma)

continua após a publicidade

Quem olha o obelisco da Praça de São Pedro, em Roma, nem imagina o trabalho que deu para ser colocado ali, no centro do Vaticano. Na verdade, ele “nasceu” bem longe, em Assuan, Egito, há quatro mil anos, onde foi talhado em granito cor-de-rosa.

O gigante de 350 toneladas foi transportado a Roma de navio, no ano 37 da era cristã, para ser colocado no Circo de Nero. Séculos mais tarde, em 1586, o Papa Sisto V ordenou a mudança da enorme coluna para onde está hoje, na frente da Basílica de São Pedro e ao lado do Circo de Nero – do outro lado do rio – onde aconteceu a crucificação de São Pedro.

Para a gigantesca tarefa foram mobilizados 900 homens, 150 cavalos, 47 guinchos e centenas de metros de corda de linho. A ordem era de silêncio total, sob pena de morte. Dá para imaginar a cena de homens e cavalos suados, músculos retesados, tentando erguer o colosso para fixá-lo no local que o Papa determinou. De repente, um grito rompe o silêncio:

continua após a publicidade

– Acqua alle funni! (Molhem as cordas).

Era o capitão Bresca, marinheiro genovês que sabia, por ofício, que era preciso molhar as cordas que estavam aquecidas e retesadas, ou elas se romperiam e a coluna iria abaixo.

continua após a publicidade

O alerta de Bresca salvou o obelisco, alçado ao lugar que hoje ocupa, e muitas vidas. Preso e levado ao Papa Sisto V por ter quebrado o silêncio, ele não só foi perdoado como recebeu dois importantíssimos privilégios: içar a bandeira papal em seu navio e ter exclusividade no fornecimento de palmas no Domingo de Ramos, na Praça de São Pedro.

Até hoje seus herdeiros mantêm esse privilégio. E até hoje a expressão “Acqua alle funni” é um símbolo de coragem pessoal contra a prepotência.

******

Fazendo uma analogia com o que está acontecendo com a Arena da Baixada, as tratativas para reerguer aquele obelisco para a Copa do Mundo, procura-se um marinheiro (e não apenas o Augusto Mafuz) para quebrar o silêncio dos que estão de braços cruzados e gritar para o papa Petraglia I: “Acqua alle funni!”.