Sexta-feira foi o dia da Paixão; sábado de Aleluia, domingo de Ressurreição. Assim reza a liturgia da fé. Na liturgia do ócio, são três dias no reino da gula: sexta-feira bacalhau, sábado feijão, domingo macarrão. Acrescido do chocolate, é o cardápio dos três dias de ócio dedicados a rever familiares, a casa da nona e ao “dolce far niente”.

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Um doce feriadão de Páscoa é pouco. O pesquisador das relações de trabalho na Sapienza Università de Roma, Domenico de Masi, defende que a carga horária de trabalho tende a diminuir cada vez mais, enquanto a expectativa de vida aumenta: “Hoje é preciso dizer que quem trabalha com horário determinado, como um emprego em banco, trabalha cerca de 80 mil horas. E sua vida é de 700 mil horas. Portanto, o trabalho custa uma nona parte da vida. O tempo de vida está aumentando e a quantidade de trabalho tem diminuído. Mas hoje existem os trabalhadores criativos. Como os jornalistas, os professores, advogados, os liberais, os artistas, os diplomados. São cerca de um terço de todos os trabalhadores. Para esses, não existe horário de trabalho. Tudo é trabalho. Até quando dormem pensam naquele artigo que precisam escrever”.

Como será o “dolce far niente” daqui a 50 anos? E quem vai suar a camisa, enquanto o primeiro mundo se esbalda no ócio criativo? Vai sobrar para os emergentes, garante o sociólogo: “O trabalho se desenvolverá muito em países como China, Índia e Brasil, que se transformarão em três grandes potências culturais e econômicas”.

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No Paraná, o mais dedicado discípulo de Domenico de Masi é o jornalista Geraldo Bolda. Com tempo livre graças ao próprio mérito, Bolda defende a tese de que a vadiagem não é ofício para um vagabundo qualquer. É preciso muito afinco ao mandrião que queira se dedicar a não fazer nada.

Especialmente ao ócio criativo, a atividade laborial que Geraldo Bolda está tratando de implantar em Porto de Cima, na comunidade conhecida como Principado do Ócio. Por ter sido a primeira Cidade Industrial do Paraná, com suas fábricas de tamanco e cachaça, Porto de Cima obedece a todos os requisitos da preguiça: tem a sombra do Pico do Marumbi, a água fresca do Rio Nhundiaquara, a luxúria da floresta e a estrada da Graciosa para o ir e vir.

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Com ou sem o aval das autoridades, a intenção dos súditos do Porto de Cima é declarar, às margens do Nhundiaquara, a independência daquele território. Povoado onde era feito o transbordo de cargas que vinham de Curitiba pelo Caminho do Itupava para as embarcações do rio Nhundiaquara seguirem para Morretes, Antonina e Paranaguá, a antiga Vila do Porto Real passará a ser conhecida como o Principado do Ócio.    

Geraldo Bolda, mãos à obra!