Prefeito cinco dias

Em maio de 2003, o então vereador Fábio Camargo assumiu a Prefeitura de Curitiba por cinco dias e parece que, desde então, tomou gosto pela mordomia. Hoje deputado estadual, Camargo é o campeão de faltas em sessões plenárias. Não foi a 18 de 24 sessões realizadas entre julho e setembro deste ano e, mesmo assim, recebeu como verba à parte a bagatela de R$ 84.170,62. Com esse “caixa dois”, Fábio Camargo não poderia deixar de viajar: esteve seis vezes em Foz do Iguaçu, entre julho e agosto, onde se hospedava no Hotel Panorama, na Rodovia das Cataratas, em suítes de luxo com diárias de R$ 327.

Quando o deputado foi prefeito interino, ao assumir com toda a pompa e circunstância, naqueles cincodias ensolarados de maio se esbaldou na mordomia. Sem imaginação, botou o pé na jaca. Fosse mais criativo, Fábio Camargo tomaria posse no Mercado Municipal e teria expedido convites timbrados aos poucos e fieis eleitores. Entre azeitonas, pimentas e cheiro verde,comemoraria no Maia Box os pepinos e abacaxis que um prefeito de cinco dias não precisa levar pra casa.

Como qualquer deslumbrado mortal, não rejeitaria as mordomias do expediente. E o cerimonial que providenciasse cinco vezes o café da manhã vindo da Padaria América. Para cinco almoços, teria requisitado o filé do Tortuga, a maionese do Erwin, o frango com polenta de Santa Felicidade, os peixinhos do Víctor e o sorvete do Gaúcho. A Cantina do Délio assinaria o cardápio dos jantares e o contribuinte assinaria a conta. Uma conta que não precisaria ser muito modesta, pois o prefeito não seria também nada modesto e convidaria os amigos mais próximos para o mandato da gula.

No plano administrativo, o interino não decepcionaria o eleitorado. Isto é, faria nada. Não moveria um paralelepípedo das calçadas da Rua Saldanha Marinho. No aspecto político, montaria barraca em plena Boca Maldita e promoveria, ao lado dos senhores vereadores, uma farta distribuição de comendas, títulos honorários e diplomas de cidadania curitibana aos passantes. Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Prefeito de cinco dias, no sexto deveria voltar à doce vidinha de sempre.

Dizem que o dinheiro não é tudo e, muitas vezes, não é nem mesmo suficiente. Foi o caso do deputado Fábio Camargo em Foz do Iguaçu. É preciso muita falta de imaginação para tanta mordomia com dinheiro da viúva.