Pré-velório

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, está (com o perdão da palavra) estupefato! Assombrado, melhor dizendo, com o convite que acaba de receber para consolar o carnaval de Curitiba, depois dos duros golpes sofridos nos últimos dias. Conseguimos falar com o Jaguara num certo sítio à beira do Cânion do Guartelá, onde posto em sossego alinhavava as últimas plumas e paetês de sua fantasia para o carnaval de Tibagi.

********

Pergunta: Ao contrário da maioria dos foliões dos Campos Gerais, que se dividem entre Matinhos, Caiobá, Guaratuba e Camboriú, o senhor prefere o carnaval de Tibagi?

Jaguara: Por certo, mas saiba que, conforme a cotação da soja, muita gente também costuma passar o carnaval em Veneza.

Pergunta: Por que Tibagi?

Jaguara: Terra abençoada por Deus, bonita por natureza e com um carnaval que deixa Curitiba no chinelo. A Gazeta do Povo não me deixa mentir: o centenário tríduo momesco de Tibagi recebe um público de 80 mil pessoas, o quádruplo da população local. Trazido para a região por migrantes nordestinos que foram trabalhar como garimpeiros na cidade, o primeiro carro alegórico foi idealizado por Manoel da Costa Moreira, o Cadete, em 1910. Mais tarde, na década de 50, começaram os carnavais de clubes, com as marchinhas do Tibagiano e do Estrela da Manhã.

Pergunta: Entrudo e carnaval já existiam em Curitiba na segunda metade do século 19. Em 1893, por exemplo, um cronista registrou que o Carnaval daquele ano foi diferente dos outros, quando se formou uma reação salutar contra a selvageria de anos anteriores, que caracterizou-se pela guerra de tintas e graxas e até lama. Conforme anotou a imprensa, “numerosos bandos de mascarados enchiam as vias públicas de rumor alegre, a pé ou a cavalo, divertindo o poviléu”. Com tanta fuzarca no passado, pode-se dizer que o carnaval de Curitiba vem sofrendo um processo de involução.

Jaguara: Infelizmente, não é de hoje. Lembro que lá nos Campos Gerais corria de mão em mão um recorte de jornal de 1900 dizendo assim: “O curitibano é triste / muito triste, mas sabe / receber sempre / com calor o deus Momo”.

Pergunta: No seu parecer, os Garibaldis e Sacis vão continuar no Largo da Ordem?

Jaguara: Muito difícil. Se até o poderoso Atlético Paranaense não tem onde jogar, muito menos o maldotado bloco vai ter onde sambar.

Pergunta: O senhor vai aceitar o convite para animar o Carnaval de Curitiba?

Jaguara: Depende. O carnaval ou o velório?